Dia de Lamento

Ah, se houvesse amor todos os dias, em todos os lugares...

Derramaríamos nossos desejos enlouquecedores de paixão,

Monumentalmente ascenderíamos ao firme e atento firmamento.

Ah, se houvesse amor em todas as mulheres, em todas as esquinas...

Avistaríamos a fênix de cada um de nós, desesperada de tédio,

Pouparíamos tolices rasas e indóceis, seríamos leves, sempre peles,

Domaríamos verdes as curvas e as consumiríamos em deleite,

Não nos seria usurpado o direito ao extremo, ao magnífico.

Ah, se houvesse amor em todos os ares, sob a atmosfera...

Tilintaríamos em redomas de móvel teto, galgaríamos verticais horizontes,

Inflamaríamos de varíola e rubéola, os librianos e leoninos,

Num toque cético e vocálico, agregaríamos.

Ah, se houvesse amor entre os casais, nos coqueirais, em todos os quintais...

Sangraríamos violeta tintura e mais,

A melodia pleitearia a permissão divina, chegaria alhures em ternos de giz em riscas,

Solenemente, aterrar-nos-ia dos belos e demasiados medos.

Ah, se houvesse mais gente amável em nossos cantos...

Seria pra dizer: que encanto!

E, no entanto, seguiremos a trilha de nossos santos, sem polimento,

Nesse dia, quando um lamento nos fará olvidar.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 14/06/2006
Código do texto: T175519
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.