Dia de Lamento
Ah, se houvesse amor todos os dias, em todos os lugares...
Derramaríamos nossos desejos enlouquecedores de paixão,
Monumentalmente ascenderíamos ao firme e atento firmamento.
Ah, se houvesse amor em todas as mulheres, em todas as esquinas...
Avistaríamos a fênix de cada um de nós, desesperada de tédio,
Pouparíamos tolices rasas e indóceis, seríamos leves, sempre peles,
Domaríamos verdes as curvas e as consumiríamos em deleite,
Não nos seria usurpado o direito ao extremo, ao magnífico.
Ah, se houvesse amor em todos os ares, sob a atmosfera...
Tilintaríamos em redomas de móvel teto, galgaríamos verticais horizontes,
Inflamaríamos de varíola e rubéola, os librianos e leoninos,
Num toque cético e vocálico, agregaríamos.
Ah, se houvesse amor entre os casais, nos coqueirais, em todos os quintais...
Sangraríamos violeta tintura e mais,
A melodia pleitearia a permissão divina, chegaria alhures em ternos de giz em riscas,
Solenemente, aterrar-nos-ia dos belos e demasiados medos.
Ah, se houvesse mais gente amável em nossos cantos...
Seria pra dizer: que encanto!
E, no entanto, seguiremos a trilha de nossos santos, sem polimento,
Nesse dia, quando um lamento nos fará olvidar.