Ele pode retroceder e mudar os fatos

Ele veio de Vênus. Na Grécia foi camponês. Em Roma gladiador. No Japão imperador. No Brasil nasceu Jessé e mora na rua. Severino de Souza seu sobrenome. Tem a lua como companheira, sua casa seu recanto é um canto da praça, seu lar enfeita com painéis e fotos recortadas. Faz arte bruta em sua morada.

Foi militar em Alagoas mas veio só pro Sudeste. Faxinou, foi garçom, segurança, sexólogo, ufólogo, cineasta e cantor, detetive particular, dono de bar, catador de lixo. Muitas destas profissões foram nesta vida, outras em outras encarnações.

Ele fala consigo e ouve vozes, que lhe contam sobre vidas passadas. Por isso aprende tantas e novas aptidões. Inventa o que fala e fala tudo com precisão. Conversa com plantas e com elas e seus cães medita.

Nessa lida, nessa labuta, encontra tempo para a prática da arte chinesa, a leveza do tai-chi-chuan, ali mesmo na avenida Rebouças. Ajuda a quem está caído, indo para o Hospital das Clínicas. Energiza a quem lhe pede.

Como toda alma boa, cuida dos bichos pequenos, com eles convive e conversa. Fala com capas de revistas e com as moças que elas estampam. Mentaliza o bem àquelas todas, belas e famosas.

Jessé usa óculos sem lentes e regula o tempo, com um controle remoto sem pilhas, que também lhe serve pra retroceder e avançar os dias, como em um filme. Pode assim deletar e ou mudar, enfim, editar a história e os fatos cotidianos.

Diz que seu poder transcende ao tempo, que pode reverter fatos políticos ocorridos. E até essa conversa pode fazê-la não ter existido. É. Faz sentido!

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Texto sobre reportagem, vide Jornal da Tarde, 16/06/2005, de Gilberto Amendola. Tentativa de poetizar um pouco o que já é poesia em si. Uma sobrevida à notícia é o que tento nestas linhas.