Hoje não sou eu

Hoje não sou eu

Não moro neste corpo. Nem tente me chamar, pois não irei responder.

Hoje não estou pra ninguém. Cansei de ser eu mesma, posso tentar ser outro alguém, por que não? Uma nova “eu” em um mundo de ninguém, mas prefiro me ausentar, importa-se? Acho que não...

Não quero ser a atriz deste espetáculo. Hoje sou espectador — assistirei de longe, quietinha — prometo não incomodar, não rir nem chorar.

Pensei em ficar invisível, mas ainda estaria aqui.

Quero férias de mim, e de você também! Não se magoe, não é pessoal.

Quero férias desta vida, destas pessoas. E por quê?

Você não entenderia e nem eu saberia explicar.

Só sei que de mãos atadas não se pode lutar. Não que eu tenha tentado...

Não me chame para dançar, pois esta musica é ruim. Nem na outra, ou na outra... Não me ofereça flores só para arrancar um sorriso em vão.

Hoje a alegria não veio.

O sol nem nasceu. Deixe-me dormir um pouco, ou quem sabe “um muito”.

Não peço que me deixe só, pois sozinha já estou.

Queria sair daqui, esvaziar a mente e flutuar, feito espírito sem corpo, livre deste “ser”, ausente dos meus pensamentos. Amanhã é outro dia, podemos conversar, falar bobagens, rir sem sentido, mas hoje, hoje não...

Hoje não ou eu.

Agosto de 2004