Conto de um mundo em versos
Eu vejo
Além de tudo que é permitido ver e sentir
posso assistir a um temporal de cenas
obscuras como o próprio tempo, torpor
fadadas como o próprio ocultismo
havia sempre naquela estrada
um trem de tristeza e rancor, sempre lotado.
que nunca tirava o sofrimento deste mundo
mas que carregava em si mesmo todo o sofrimento
havia naquele céu, um rio de sangue
onde os cabelos de uma deusa chamejavam
e seu sorriso era terrível na própria face
escarnecida de terror por vê-la refletida na água.
Tinha também o velho cego da estrada dos pombos
que carregava os segredos do mundo na bengála cansada
e conselhos errados vivia ele a dar, como quem faz o mal
mas queria apenas mostrar que a verdade esta em ser...e não em fazer.
lembrei-me da menininha que cantava na beira da lagoa
a canção da mãe, que ainda a observava, caída no penhasco
com sua face cheia de certeza, ela canta desesperada
como se a mãe fosse acordar, ainda naquele amanhacer...não vai acontecer.
Eu vejo um sinal de esperança em mim
não me canso de sentir a minha própria tristeza
mas sei que algum dia o trem a levará
e me sentarei ao lado da menininha, em seu lamento eterno
para esperar que a chuva caia, e leve as lágrimas de sua mãe
que ainda a observa do alto do penhasco
lá em cima o trem apita, nervoso, fazendo o pobre cego resmungar
e o rio que leva a chuva para a lagoa, ainda mostra a face que branda
contra sí mesma em espanto e admiração, sorte do velho cego,
quem dera fosse surdo... agora quem chora é a mãe...antes de amanhecer
a canção da menina vai novamente ser ouvida, caída no penhasco...
Em outras terras, por onde o trem for me levando e ditando
posso ver que todos sentem que algo ainda os falta
como um pedaço de alma, que lhes fôra retirados antes do inicio
por que vivemos procurando o que nos foi tirado? se fogem.
E quando encontrar pregarei uma peça no desvio eterno
maldito destino que rege este pobre lado do mundo, castigo ...
Mas quando o trêm da tristeza some no horizonte verde
e a noite cai sobre nossos velozes pensamentos, estes fogem
levados para muito distante nos lamentos, tanto o velho como
a garotinha me seguem, além de todos os portões iremos seguir
buscando nossos pedaços de alma que nos foram usurpados por ele.
Devendo ao comandante deste trêm não pude ficar, então voltei para a realidade
mas deixei a menininha presa ao trêm, como pagamento de uma eternidade de serviços
quando voltar ao trêm, sei que o velho vai estar no comando dele, que vai ficar para
todo o sempre dando voltar pelos lugares perdidos, cheios desta tristeza, desta ausência...
Senhor das Terras Pardas