VELHOS ARVOREDOS
Guida Linhares
 
Às vezes uma amizade vai nascendo devagarinho, como o brotinho que surge de uma semente que contendo energia vital, abraçada pelo útero da mãe terra, rompe a casca e se projeta na direção da luz solar. No começo parece fraquinha, e está sujeita às intempéries do tempo. Se chover demais, pode se afogar e dali nem passar. Se não chover, pode morrer ressecada pelo calor demasiado, sem a água necessária para irrigar o seu interior, faltando o alimento necessário para o seu crescimento forte e sadio.
Penso nas amizades desta maneira. Quando são antigas, sendo reais ou virtuais, já se conhecem o caule, os ramos, as folhas, já se acompanhou uma florada, e os seus frutos já foram de certa forma saboreados, o que não quer dizer que uma vez ou outra, não sejam tão doces ou tão gostosos. Mas quem disse que amigos tem que concordar em tudo, em gênero, número e grau? A beleza da diversidade da vida faz a grande diferença, na transformação de cada um de nós.
Quando são novas amizades, ainda em brotinho, não se sabe qual será o seu formato, a sua constituição, o seu contexto, flores e perfumes, e quais frutos serão partilhados, como, onde e quando só o tempo vai dizer. Meu velho avô dizia sempre: - quem deixa a estrada velha pela nova, sabe o que deixa mas não sabe o que pega. Isto é apenas uma exceção à regra eu respondia, porque amizade pode nascer todos os dias, basta se ter olhos de ver e coração de sentir, pois há uma estranha magia, um certo acaso quando duas pessoas se encontram e a partir dali começam a se conhecer melhor e cultivar uma amizade.
Nem todos levam em conta que as estórias de vida diferentes, a educação recebida, as alegrias conhecidas e as frustrações de cada criatura são únicas e singulares, e que cada um tem a sua própria ótica, e se enxerga através dela, e mesmo que alguém queira mostrar um outro lado, tem gente que se recusa a ver e nem quer perceber que há pequenas coisas que podem ser mudadas para melhor.
Assim quando numa amizade, os pensamentos e sentimentos se entrechocam, e as rupturas muitas vezes se fazem, há todo um percurso dolorido e difícil. Contudo, costuma-se dizer que da discussão nasce a luz e do intercâmbio de idéias, se pode enriquecer sobremaneira o nosso instrumental para uma convivência verdadeira e harmoniosa.
Gosto de olhar os velhos arvoredos, com a sua placidez e seus troncos grossos, testemunhas de muitas estações. Sinto que a energia que eles contém vai além, muito além, pulsando em seus ramos, cobertos de folhas verdes, que se balançam ao vento e neste momento, gostaria de ser como as folhas, que em seu silêncio, apenas dançam a melodia de existirem simplesmente para receber o abraço do sol.

<2008>