Estrela “de” Cadente
Ainda ouço aqueles aplausos que ecoam pelas velhas paredes do anfiteatro
Ainda sinto o cheiro da madeira do palco corroído pelo tempo e da cortina vermelha... intacta, a abrir e fechar sonhos de espectadores.
Das mil facetas, promíscua e santa, velha e nova, desvairada e sã.
Das plumas coloridas, das máscaras, do pancake, do pó... Este que agora habita as cortinas, aquela mesma, que teima em permanecer, que não se abate, que conta o tempo e continua... intacta.
Ainda vislumbro a casa cheia, sinto o coração disparado, o espetáculo da vida se funde com a arte.
Da bagunça na coxia à gambiarra na iluminação, da improvisação, das muitas “merdas” desejadas e das noitadas dedicadas a “Baco”.
Das lágrimas, do suor, das alegrias, dos fracassos, dos sucessos e das fantasias.
Antes meu olhar, outrora maquiado, hoje é apenas um olhar cansado, mesmo com o passar dos anos meu espírito segue vivo, incansável e apaixonado.
Sou como os holofotes que piscam, mas não se apagam. “o aprendizado da cortina”- seguir intacta apesar do tempo e das adversidades.
Antes os tempos eram outros, agora o espaço é de poucos, hoje a juventude supera o talento.
Faz-me lembrar “o aprendizado de ser árvore”- permanecer em pé, apesar do forte vento
Nada te atinge, nem a inveja, nem a sede de poder, estar árvore, frondosa e cheia de frutos.
Em seu corpo traz marcada muitas paixões, que sente as forças da vida, é saber dar frutos, ser sombra, alimentar e saber a hora de morrer, silenciosa, deixar sementes, esperar, não se envolver,divertir-se sem medos, não ter idade, saber ficar feliz, reconhecer a saúde, a sorte, os privilégios e o amor. Enquanto se é árvore, ser forte e delicada, trazer o cheiro bom do fim de tarde, dar alegrias e boas recordações, é a verdadeira vocação artística, ser árvore, ser estrela, sempre, permanecer... perene e inesquecível.
E enquanto eu permaneça , que seja com a dignidade de ser lembrada que saí de cena apenas da vida e nunca da arte.