Fantasma
É isso aí. As vezes me vejo parada na porta do quarto. E no entanto, na cama estou deitada. É uma sombra. Se eu a tocasse, minha mão pegaria o vazio.
Fico estática. Transida de medo. Não consigo gritar, mas meu pensamento corre lépido. Não sou eu. Nem tudo nela é real, como em mim. Tocável.
O que ela estará fazendo alí, a essa hora? O que vem buscar? No ar, o cheiro de flores de outrora eu sinto.Cravos e rosas, brincos de princesa. Dama da noite. Será meu álbum de recordações, esquecido?
A noite caminha lentamente, atoa e silenciosa. Só os sapos coaxam na lagoa. E os grilos, nos jardins... Mas se nem moro perto? Tão longe estão, mas os escuto.
Ela também não consegue falar. Só me olha. Pelas frestas da cortina de crochê penetra a luz do luar. Eu penso: agora ela vai embora,
Que nada! É insistente. Fica ali parada querendo que eu tente os seus motivos adivinhar. Mas nada. Não consigo.
Penso em mil coisas. Conto até cem.Reconto. Fecho os olhos e espero. Nada dela ir embora. Fica ali olhando bem em meus olhos, querendo que eu também me olhe.
Parece que é mais nova do que eu agora. Bem melhor.Nem parece que já morreu. Menina com olhos mortos de velha. Ou são meus os olhos que vejo nela?
Meu pai está morto, ectoplasma. Não vai mais trazer um copo de água. Tenho que me virar sozinha nessas noites de solidão.
Penso que ela ouve meu pensamento e grito: vá embora.Preciso dormir,não ouve o vento anunciando que um novo tempo vai começar do mesmo jeito que todos os outros?
Acho que ela entende. Olha para mim com tanta pena que até choro. E de repente se esvai como uma bolha. E eu penso. Vai ser diferente quando ela voltar, vai ser...
(Uma homenagem a meu pai, que afastava com sua presença todos os meus medos noturnos)
É isso aí. As vezes me vejo parada na porta do quarto. E no entanto, na cama estou deitada. É uma sombra. Se eu a tocasse, minha mão pegaria o vazio.
Fico estática. Transida de medo. Não consigo gritar, mas meu pensamento corre lépido. Não sou eu. Nem tudo nela é real, como em mim. Tocável.
O que ela estará fazendo alí, a essa hora? O que vem buscar? No ar, o cheiro de flores de outrora eu sinto.Cravos e rosas, brincos de princesa. Dama da noite. Será meu álbum de recordações, esquecido?
A noite caminha lentamente, atoa e silenciosa. Só os sapos coaxam na lagoa. E os grilos, nos jardins... Mas se nem moro perto? Tão longe estão, mas os escuto.
Ela também não consegue falar. Só me olha. Pelas frestas da cortina de crochê penetra a luz do luar. Eu penso: agora ela vai embora,
Que nada! É insistente. Fica ali parada querendo que eu tente os seus motivos adivinhar. Mas nada. Não consigo.
Penso em mil coisas. Conto até cem.Reconto. Fecho os olhos e espero. Nada dela ir embora. Fica ali olhando bem em meus olhos, querendo que eu também me olhe.
Parece que é mais nova do que eu agora. Bem melhor.Nem parece que já morreu. Menina com olhos mortos de velha. Ou são meus os olhos que vejo nela?
Meu pai está morto, ectoplasma. Não vai mais trazer um copo de água. Tenho que me virar sozinha nessas noites de solidão.
Penso que ela ouve meu pensamento e grito: vá embora.Preciso dormir,não ouve o vento anunciando que um novo tempo vai começar do mesmo jeito que todos os outros?
Acho que ela entende. Olha para mim com tanta pena que até choro. E de repente se esvai como uma bolha. E eu penso. Vai ser diferente quando ela voltar, vai ser...
(Uma homenagem a meu pai, que afastava com sua presença todos os meus medos noturnos)