UM MERGULHO PARA DENTRO DO EGO ( Celismando Sodré Farias-Mandinho)
UM MERGULHO PARA DENTRO DO EGO
( Celismando Sodré Farias - Mandinho)
O grande filósofo Sócrates, assim como nosso iluminador e guia Jesus Cristo, não deixaram nada escrito. Ambos disseram muito do que precisaria e ainda precisa ser ouvido, e por estarem à frente do seu tempo foram implacavelmente perseguidos na época em que viveram. Sabemos de suas histórias, ensinamentos e idéias, graças aos seus discípulos que perceberam o quanto estes admiráveis seres evoluídos precisariam ser eternizados na história, como fontes de inspiração e saber para toda a humanidade.
Sócrates, resgatado magistralmente pelo filósofo Platão, seu discípulo, que por sua vez foi mestre de outro grande da filosofia grega, o versátil e extraordinário Aristóteles, afirmava que era preciso destruir no homem, a ilusão de que ele sabia alguma coisa, para, a partir daí construir o alicerce do seu saber. Por isso sua célebre frase: “só sei que nada sei”. Quantos, não conseguem perceber a realidade do mundo ou sua própria ignorância porque vivem apegados as suas ideologias enraizadas, como se estas fossem a “verdade mais verdadeira do mundo”, não percebendo idéias contrárias às suas como mais coerentes e lógicas. Ao interrogar seus interlocutores, Sócrates fazia com que estes entrassem em contradição e percebessem a fraqueza dos seus argumentos, daí porque a humildade era sua marca essencial no complexo e árduo caminho para o conhecimento.
Ao abrir os olhos das pessoas, principalmente dos jovens para a ilusão do conhecimento, para as supostas verdades apregoados pelos poderosos da época, ele foi considerado perigoso, subversivo e agitador e por isso precisava morrer, de acordo os mandatários daquele tempo. Depois de Sócrates, quantos morreram ao buscar despertar as consciências adormecidas dos oprimidos e enganados pelos sistemas dominantes com seus reis, militares, políticos e sacerdotes? Quantos foram amordaçados ou calados definitivamente por que suas frases feriram como flechas de fogo as “verdades hipócritas” dos dominadores privilegiados.
Ao ler uma frase de Sócrates “conheça-te a ti mesmo” comecei a refletir o quanto nós desconhecemos nosso próprio “ego”, somos ignorantes de nós mesmos o que provoca nossa angústia diante de nossas reações e comportamentos que, por vezes, nos surpreende. Precisamos ter a coragem de mergulhar em nós mesmos para tentar montar o quebra-cabeça da nossa personalidade fragmentada, para adquirir nosso equilíbrio emocional. Esta foi a inspiração que fez nascer o poema abaixo:
O MERGULHO
( Celismando Sodré Farias -Mandinho)
Minha alma, vasto mar
Oceano abrangente e revolto
De mistérios e de sonhos
Onde mora minha outra parte metafísica,
Quero ir mais profundamente
A tuas zonas abissais
A procura dos meus mitos
Símbolos da minha existência...
Permita-me este mergulho?
Preciso imergir no interior
Do meu universo inexplorado
E arrancar lá do fundo os cacos,
São pedaços que ao aflorarem ferir-me-ão
Sei que eles sairão sangrando
E que levarei muito tempo
Estancando minhas sangrias
E cicatrizando as feridas deixadas.
Este mergulho será como uma cirurgia
Necessária e revigorante
Que irá curar as doenças que impedem
A busca do meu conhecimento próprio
E da minha difícil unidade
Que esbarra no meu eu partido.
Preciso agrupar e solidificar
Esses diversos fragmentos,
Ir fazendo dessas partes uma só
Mesmo que leve o infinito
E que eu demore muito para conseguir o todo
Por que isso pode significar Luz.
Será meu ser está preparado
Para sentir o que nunca sentiu?
Para ver o invisível,
Conhecer o inconcebível
E não se afogar neste MERGULHO?