Tragicômico
Perdi
O tempo, o cabelo, o acento
Do nome e do traseiro também
É o que dá nunca olhar para trás
O acentuado das curvas
Já não me acompanha
Pareço agora entortar
Ou o acento do banco
Encolher
Sim, eu cresci!
Mas não na direção almejada
Deve ser castigo por não saber
Decorar datas, senhas e fórmulas
Não ver a diferença
Entre direita e esquerda,
Leste e oeste, vertical e horizontal
Entre você e eu
Perdi o rumo, o prumo, o ritmo
Mas nunca fui um bom bailarino das horas
Ganhei uns anos, uns danos, uns quilos
De memória, de metáfora
E de matéria também!
Acho que é o egocentrismo se alastrando
Enquanto eu vou me arrastando
E meu manequim crescendo
Agora tenho tão mais de mim
Ocupo amplo espaço no mundo assim
Perdi o jeito, a memória, perdi a mão
E por desastre, perdi você
Mas você era quem mesmo?
Vai saber... Ao final
Perdi a vida
E me perdi
Pra quê?