Fragmentos de um diário: III Parte

O que é a “vida”?

Há tanto tempo que eu não sei o que significa viver,

O que é viver,

O que seria sentir a vida...

Eu não vivo,

Eu simplesmente existo,

Como uma pedra, ou um ser inanimado,

E até disso eu tenho sérias dúvidas.

Meu Deus irreal, o que é se sentir feliz,

O que é ser feliz de verdade?

Há mais de dezenove anos eu não sei o que é ser feliz,

O que é seria alegria de viver...

Não sinto satisfação em estar perto das pessoas;

Só há eu e minhas malditas palavras,

Meus malditos textos,

Minha maldita consciência filosófica e literária que enxerga demais as coisas.

Onde está a flama inextinguível de minha luminosidade a estender

Seus braços termodinâmicos para além do infinito?

Este universo criptográfico está me conduzindo para o cais da insanidade.

Todos os que entram no Dédalo do Conhecimento jamais saem de lá os mesmos!

Acho que vou enlouquecer no Dédalo do Pensar,

Do investigar, do examinar,

Pois os oceanos das Idéias inconcebidas onde eu navego

São mares turbulentos, desconhecidos, traiçoeiros e perigosos.

Mas prefiro me perder na loucura do labirinto do Pensar e do Conhecimento

A simplesmente aceitar essas explicações incompletas e insuficientes

As quais a Humanidade nos oferece.

Talvez eu enlouqueça tentando encontrar a suprema verdade ou o conjunto de verdades

Que desvelem e decifrem esse mistério atroz e aflitivo

que é o Existir, o Ser, a Vida e o Universo.

Talvez eu me suicide no Dédalo do Conhecimento por não encontrar saída nenhuma,

Ou por não descobrir nenhuma resposta ou verdades indubitáveis.

Para mim, a jóia mais preciosa, mais valiosa, e a verdadeira relíquia

é o Conhecimento, e o Pensar.

Sou o investigador, o explorador e o apóstolo do Conhecimento.

Mas eu não passo de um desgraçado,

De um bastardo,

De um imbecil narcisista e petulante.

Não sou nada,

Não sou ninguém,

Eu não sirvo pra porra nenhuma.

Nunca serei alguém de verdade...

Não é complexo de inferioridade,

Nem baixa auto-estima,

Talvez até seja, sei lá...

Odeio ver pessoas felizes, sorrindo cheias de alegria.

Quando vejo duas pessoas felizes sinto tanta raiva e revolta,

E minha vontade é de meter uma bala na cabeça destes tais.

Por quê?

Porque eu não permito que ninguém seja feliz enquanto eu primeiramente não o for.

Não permito que ninguém demonstre alegria enquanto eu não for o primeiro a sentir,

a ter, e a possuir a alegria que estes hominídeos fingem demonstrar.

Por que eu fui nascer?

Eu odeio ter que viver,

Não é a minha vida que eu detesto,

Mas a própria vida em si.

Estou tão abatido, fraco, cansado, e fragilizado

Físico e psicologicamente, que temo que meus outros “eus”

(muitos deles são seres selvagens, cruéis, violentos e demoníacos)

Tentem se agrupar a fim de romper as jaulas internas onde os trancafiei.

Eu não os ouço,

Mas eu os sinto se locomovendo com ódio por entre as jaulas,

E não sei por quanto tempo mais terei resistência e forças para mantê-los presos.

Há em mim tanta raiva, tanta violência, tanto ódio, tanto caos,

Que nem os piores facínoras, criminosos e psicopatas da humanidade,

Como Nero, Hitler, Stalin, etc,

Chegam perto do grau da Maldade e Perversidade que há em mim,

E que luto, a cada instante, com todas as minhas forças,

Para não ceder a esses impulsos sádicos, malignos, e cruéis.

E eu estou tão cansado de lutar contra tudo isso que há em mim,

E Temo que essas forças sádicas e violentas dominem o meu ser por inteiro.

E ainda há a luta entre a minha consciência querendo compreender a tudo,

Nem que isso me leve para o penhasco da loucura,

E os meus sentimentos que só querem paz, sossego, um emprego,

Uma família, filhos;

Mas para mim essas coisas são tão ridículas e triviais.

Já existem milhões e milhões de pessoas que já fazem isso,

Então por que eu devo seguir esse exemplo dessa estulta multidão?

Meu caminho é outro.

Contudo existirá realmente algum caminho verdadeiro a seguir?

Estou de saco cheio dessa merda a que chamamos de “Vida”,

Estou de saco cheio dessa porra de Existência, de Pensar, de Escrever;

Estou de saco cheio de tudo.

Por um momento eu queria ser Onipotente,

E assim eu poderia destruir tudo,

Eu queria aniquilar tudo neste universo,

Eu queria exterminar todas as formas de vida e de existências.

É ressentimento, inveja, raiva, frustração, traumas, complexos disso ou daquilo?

Pode até ser tudo isso, e pode até ser mais centenas de outras coisas que temo dizer,

Não importa,

Eu sou infeliz,

Eu vou morrer sendo infeliz e triste,

E queria levar toda a Existência para esse Vácuo que me consome,

E assim aniquilar completamente a tudo.

TUDO.

E esta neurastenia que se dilata cada vez mais em todos

os átomos e células de meu espírito.

Estou Farto de tentar compreender as coisas,

Estou farto de criar objetivos e sentidos para uma vida que em si

não possui sentido nem objetivo lógico nenhum;

estou tão saturado de estar sempre triste e infeliz;

estou farto de ser quem eu sou,

e de tentar ser uma outra pessoa,

e de sempre tentar mudar;

estou farto desse esterco imprestável que é a existência.

Tudo isso não são minhas meras lamúrias.

Droga! Estou descrevendo tudo o que se passa no meu pensar e no meu sentir,

E todas essas coisas vêm se acumulando ao longo dos dias, dos meses e dos anos.

E querem saber de uma coisa: chega de eufemismos e de polidez.

Foda-se Deus, foda-se o mundo,

Vá para o quinto dos infernos a Humanidade,

Vá pra puta que pariu toda a Existência,

E dane-se também o hedonista e hediondo Gilliard Alves.

O que é que está havendo comigo?

Sou uma noite inapagável que nunca amanhece.

O que é aproveitar “a vida”?

O que há para se aproveitado?

Enquanto uns riem, nadam em dinheiro, esbanjam saúde,

curtem os denominados “prazeres da vida”,

outros milhões estão neste exato instante sucumbindo em leitos de hospitais, com doenças incuráveis; outros milhões estão passando fome; centenas de milhares de desempregados; outras centenas sendo assassinadas, estupradas, mutiladas, torturadas,

E diante de tudo isso, eu vou sorrir com o meu empreguinho fixo,

Transar com minha esposa quatro vezes por semana,

Passear com os amigos nos finais de semana,

Enquanto tudo isso acontece diante de minha face?

Cansei de tentar compreender o ser humano.

Todos são egoístas e hipócritas.

Tudo isso que acontece é tão insensato, tão incoerente.

A Existência é um erro abismal.

Por eu sou assim?

Por que eu sinto todas essas coisas?

Por que eu sinto uma força descomunal que me puxa para não ser igual as demais pessoas?

Acho anormal toda essa litúrgica normalidade Humana, cotidiana.

Eu não entendo mais droga nenhuma.

Tudo dentro de mim está excessivamente cansado e triste.

Não sei se resistirei a todas essas coisas que me aviltam,

e que guerreiam dentro do meu ser...

Quero dormir e não acordar nunca mais.

Quando terei um minuto de paz e de alegria genuína dentro de mim?