Jamais brindamos à miséria
Impregnada em nosso sangue
Jamais comemos e pensamos
Naquele que nada tem pra comer!

E a eles chamamos de mendigos
E a eles chamamos de delinqüentes
E votamos naqueles que pedem suas cabeças
Esquecendo que todos nascem inocentes!

Porque criamos nosso mundo
Um mundo perfeito
Onde o centro é nossa família
Que no Natal cobrimos
Nossos filhos de presentes!

Quando ao lado existe um menino
Brincando com um velho cabo de vassoura
Fantasiando um cavalo!

E ao crescer a ele chega um traficante
Seu Papai Noel
E torna seu sonho em dura realidade
E aos sete, oito anos de idade
Seu brinquedo é uma arma de verdade!

Revoltado, sem amor,
Sem nunca escutar um SIM
Caminha na clandestinidade
Enquanto sua mãe trabalha
Colhendo uvas baixo sol

Pensando como estará seu pequeno
E com as mãos grossas e calejadas
Limpa uma lágrima caída.

Por seu rosto sofrido e desesperançado
Porque em seu coração apertado
Intui a inevitável desgraça!

Recebe seu mísero salário
E caminha até sua casa a pé
E ao chegar à esquina
Avista uma multidão
Policia, curiosos e um corpo baleado!

Ela chora e o toma em seus braços
Mesclando o sangue de seu filho
Com suas mãos manchadas das uvas colhidas
Transformadas em vinho
O qual brinda a nossa felicidade!

Esta mãe enterra seu filho humilhada
Sentindo a dor mais sofrida
A perda de sua criança querida

O filho que matamos, com nosso egoísmo
O filho que demos as costas
E agradecemos a Deus
Por nossos filhos irem ao colégio
Por nossos filhos terem um lar!

E brindamos com uma taça de vinho tinto
De sangue de mulheres que doam seus filhos
Ao nosso mundo desprovido de consciência!






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