Transporte
A descrição diz respeito
não ao lugar onde estamos, a esse lugar onde cai a noite obstinada,
a impossibilidade de seguir a direcção da estrada,
mas ao ruído temporal da voz que fomos em todos os lugares, os átomos eternos para além do brilho de néons em cidades reais
e – quem sabe? – houve frases caídas no arco das veias ou na poalha dos bolsos acumulada.
Sob a diáspora da luz, estive num espaço público a sentir as palavras como agulhas, a mudar as emoções sobresselentes para ser outro na mudança da paisagem.
Num instante passa o vento pela marginal e vamos no transporte mais rápido, como aves no retorno do ar.
Estive num espaço público a sentir as emoções fúteis, como se outro habitasse o meu rosto,
estive para deixar de sentir e ficasse a poalha da memória
como angústia a recordar.
Num instante, a cintilação de néons da cidade quase real
me dilui e vou - prefiro ir - com as aves e de novo sentir
a descrição desta personagem na solidão
da noite obstinada.
(200 textos, número
interessante. Enfim, ponto final.)