Transporte

A descrição diz respeito

não ao lugar onde estamos, a esse lugar onde cai a noite obstinada,

a impossibilidade de seguir a direcção da estrada,

mas ao ruído temporal da voz que fomos em todos os lugares, os átomos eternos para além do brilho de néons em cidades reais

e – quem sabe? – houve frases caídas no arco das veias ou na poalha dos bolsos acumulada.

Sob a diáspora da luz, estive num espaço público a sentir as palavras como agulhas, a mudar as emoções sobresselentes para ser outro na mudança da paisagem.

Num instante passa o vento pela marginal e vamos no transporte mais rápido, como aves no retorno do ar.

Estive num espaço público a sentir as emoções fúteis, como se outro habitasse o meu rosto,

estive para deixar de sentir e ficasse a poalha da memória

como angústia a recordar.

Num instante, a cintilação de néons da cidade quase real

me dilui e vou - prefiro ir - com as aves e de novo sentir

a descrição desta personagem na solidão

da noite obstinada.

(200 textos, número

interessante. Enfim, ponto final.)

Carlos Frazão
Enviado por Carlos Frazão em 05/08/2009
Reeditado em 31/05/2013
Código do texto: T1738622
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