A cor dos olhos

Os olhos ditam cores... Versos... Magia.

O banco de uma estação... As folhas de outono enroladas aos pés... Uma dança que os meus olhos veem... Cortam um pedaço da cena... Vidram-se no espetáculo à parte.

Só teria prazer se o trem voasse...

Um fim de sentido, para não perceber que os vagões passam depressa... Postes... Já contei mais de cem...

Certa vez... Era menina... Deliciei-me num trem de passageiros... Passei de um vagão para o outro... E viajei de uma estação à outra.

Pintados de azul. O trem puxado pela Máquina... Era assim que diziam.

Pessoas sentadas em bancos frontais... Cada qual a olhar para as suas respectivas janelas... Esperando o chá que seria servido... O pedaço de cuca que viria em forma de desejo...

Aguardei, ansiosa, o momento... Mas, o brilho das faíscas que saiam do atrito dos caminhos de ferro atraia-me mais... Fagulhas de lembranças marcadas a ferro...

Cantei uma melodia... E valsava nas batidas afoitas do coração, enquanto as pernas observavam o eixo que segurava um vagão ao outro... Um pulo... E lá estava eu em outro "cômodo"...

E virou facilidade o tal acesso... De vagão em vagão... Cheguei à Máquina...

Um homem com ares de piloto de avião... A cultivar meus sonhos, enquanto guiava a caravana de uma minhoca...

Para mim, estávamos por entre as nuvens... Respirando a terra... Adentrando os mares... As cavernas... E eu era apenas mais uma, entre tantas outras pequeninas.

Levanto-me, agora, desse banco... Não há mais os bancos azuis... O chá... Mas, há o trem de passageiros lotado... O subterrâneo sonho por mim criado... Da pequena cidade às mundiais...

As folhas são sopradas pelo vento... As páginas do livro que carrego são envoltas por uma poeira fina... Não há mais ninguém nessa estação... Apenas eu.

Posso dar as cores que eu desejar... Posso pular de um vagão para outro... Com os olhos.

Fecho o livro... Fecho os olhos... Respiro andaimes...

17:00