Natureza Viva

Ele sou eu e tu - as duas personagens da narrativa. Um cenário possível.

Inevitavelmente, ele mergulha, eu, o frio ácido é uma chama, os contrários unem-se na paixão, pressentir a beleza do ar, a humidade circundante do ar e é por aí que o dia corre insistente, grandioso e surgem (sempre) as aves, as vagas, aparecem repentinas àquelas aves; o vento, o vento luminoso, é possível sentir o vento, a lenta invasão da tempestade, tudo aflora à mente olhando as dunas varridas entre a vegetação, partilhasse a melancolia do que não volta à experiência vivencial, ao âmago das emoções substituíveis. O importante, ela ficaria na nudez da última noite. Saía para se esquecer de si ou medir o pulso do nosso vazio.

Por isso conhecemos a morte, o fim das partículas de um todo, posso escrever: das pétalas, dos fragmentos, dos coágulos. O que vai morrendo, assistimos à morte em partículas, olhamos mas já não vemos o que no passado amámos, o que no passado tivemos sobre os ombros e morreu sob os olhos, pétala a pétala, morreu e morremos velados pela dor até à boca. (O relógio parado da sala). Ele pensava na praia ao fundo do quarto para beber o mar, na avenida marginal do futuro ladeada por residências de Verão. A realidade estava ali com todo o seu peso, uma frase para lhe contar a vida e a lucidez das decisões.

Não sabemos senão viver os acontecimentos diários, não podemos prever o que deixaremos por escrever em cada instante, um acto inteiro como a boca que escreve o amor inteiro, aqui o que é dos outros sobre a sombra dos pára-vento, os gelados felizes de domingo, encostada a multidão fútil à luz extensa da grande superfície. Podia continuar a descrever o cenário, ele olhar-te perplexo, tu - de olhos naquela distância por dobrar como um cabo – talvez, vendo as marcas na pele do dia esculpirem-se no bronzeado areal (placas de aviso à navegação). Inevitavelmente, ele mergulha, eu, a vida à espera

na esquina

num aceno.