A força das Asas

Eram dois... Pequeninos mimos...

Guardiões de um sol... Enlouquecedores do vento...

Assim, batiam as asas... Corriam contra o tempo.

O mar agitado os fascinava... Nas estradas, eram as esquinas.

Sementes de poucos existentes... Não havia cura para o gosto que sentiam na vida.

Eram envolventes... Envolvidos...

Solitários... Mesmo diante de tanta gente...

A vida parecia um giro lento... Diante de corações em polvorosa...

Os passos, mesmo lentos, corriam pelos cantos... Pela madeira acinzentada...

Não comiam as luzes... Essas os mastigavam...

Era tudo perfeito... Cada detalhe...

Não precisavam de presença... Precisavam apenas da existência...

Eram dois... Voavam soltos...

Pois, sabiam que não há correntes para o espaço...

Não há tempo que envolva a mente... Não há franteiras entre as muralhas...

Os moinhos de vento... O farol de Virgínia... Os andantes quixoteanos...

Isso tudo não formou alicerce... Virou balança...

Dois pesos... Uma medida... Um parecer escolha, com gosto de fuga...

Pertencer a si... O tempo todo...

Querer o cuidado extremo das mãos, nem vistas, tão trêmulas...

Não reconhecer os limites de outrem... Criar lacunas...

Ser a ditadura de elos... Correr atrás dos alvéolos...

Correnteza... Que repete as mesmas falhas... Décadas e décadas...

Nos barrancos de um só rio.

Eram dois... A olhar as ondas... Ecos de um tempo circular...

O grito que chega em três etapas e volta a afundar nas águas enoveladas.

Um bateu as asas... Nem percebeu que o vínculo quebrara...

Cortou as sombras que entravam pela janela... Que circulavam na parede alva...

Criou um desejo-seta... Rompendo as próprias entranhas...

Quem contaria a mesma história?... Duas vezes a água não passa pelo mesmo poço... Quem acreditaria em tal dito?... Hoje, um riscou essa página da memória...

Como servir apenas para uma coisa?... Recolher das nuvens o que é preciso... Ou notar que ela faz parte do mesmo céu?

Artifícios de uma Literatura-bamba... Para escolher o momento final de um texto... Arremeço de folhinhas de papel...

O olhar de um brilha igual... Ainda vê a vida colorida... O outro, no entanto, virou o preto e branco de um negativo escolhido...

E os dois voaram para longe... Da forma que estava escrito... Um a assobiar que amava... O outro a dizer que a amizade é mais do que isso...

As asas, com sua força maior, sabem bem que o recorte está tão falho... Colaram-nas com cera vermelha... Aqueceram-nas no desejo escaldante... E, fechariam os olhos, quando elas mesmas tombarem.

Ah! A existência é bem mais do que falas...

Há o mesmo horizonte... Em todos os mares...

19:17