Para sempre

Estava recordando coisas que vivi e que ainda fazem parte de minha vida. Imagens que ficarão para sempre. E são coisas tão bobinhas, tão banais, mas é nestes atos espontâneos que o amor maior se manifesta.


Então, o que é para sempre?


Para mim, para sempre é o abraço e o aconchego em meus ombros, em um momento inesperado que Pietra me faz, beijando-me o rosto e parando o tempo, os relógios e o universo por alguns segundos.


Para sempre são as lembranças que guardo dos que já se foram e que tão presentes ainda se mostram em minha vida.


São também os livros que li e leio. Eles me fazem sonhar com outros lugares, onde nunca pisei.


Os lugares por onde andei e ainda voltarei também se eternizaram: um sorvete na Piazza Michelangelo de Firenze, o Coral Sacro Natalino da Catedral de Notre Dame em Paris, as ruas medievais do bairro de Barceloneta em Barcelona, o barco cada vez mais se aproximando das Cataratas do Iguaçu. Poder olhar nos olhos da Mona Lisa no Museu do Louvre, visitar o Buda de Lantau na China, olhar as horas no Big Ben em Londres, perseguir as estrelas da calçada da fama de Los Angeles, comer um bobó de camarão na praia de Itapuã na Bahia... são as fotos que ficaram reveladas na minha alma e que ficarão: para sempre.


É para sempre também o número do seu telefone que, mesmo sem ligar para você há mais de ano, ainda conservo na memória viva de meu pensamento.


É sentir seu cheiro quando penso em você, ouvir a sua música antes de dormir, chorar de saudades quando ficamos muito tempo ausentes. É para sempre estar junto ao seu lado, fazer parte de sua vida. Diria até que mil anos não bastam. Para sempre é sempre mais.


Um piano tocando a nona de Beethoven ou Maria Bethânia cantando “Olhos nos olhos”, de Chico Buarque, quem sabe até assistir cinco, seis, sete vezes ao show de Ana Carolina e continuar gostando cada vez mais, muito mais, sempre.


Para sempre são “as águas de março fechando o verão”, são os sonhos que tenho, onde visito lugares que nunca vi, e mais ainda retorno a eles de tempos em tempos. Para sempre é minha mãe com seu jeito de ser, e sou eu com todas as imperfeições. Para sempre é o amor que temos, tivemos e ainda teremos. Para sempre é dar continuidade à vida que temos e fazer dela um delicioso brownie de chocolate.


Um filme de Almodóvar, um cachorro deitado aos seus pés se protegendo do frio e se esquentando com o seu calor, mais ainda é esse mesmo cão dormindo sobre sua barriga como uma sentinela num dia de enfermidade.


Para sempre é o céu do Brasil e as Três Marias. Salve o Cruzeiro do Sul! Para sempre é o carinho que ofertamos e recebemos.


A visão das pirâmides do Egito é para sempre, mesmo que nesta vida eu ainda não as tenha visitado.


É olhar a lua cheia nascendo na praia por detrás da serra.


Para sempre é um jogo perigoso, mas que sempre vamos praticar. E quando um dia o encurralarem e tentarem tirar de você todos os seus preciosos bens, fique tranqüilo, que o que é para sempre permanecerá com você, eternamente.

 

Janeiro de 2006

Texto publicado no livro Para Sempre, de Márcio Martelli,
Editora In House (2006).