Afaga-me o coração
Afaga-me o coração teu ensejo.
Espreitado, vejo o reluzir dos teus olhos.
A lua, em cima, torna-se pouco significante, ainda que cheia:
Tua pequena luz é-me maior que a luz do universo inteiro.
Se agora falasse somente pelo amor, certamente pouco justificaria:
Há uma escadaria; há uma pirâmide escalar,
Que se não mais houver, pouco, é certo, haverá.
São pequenas coisas ao ar.
Um suspiro, um instante;
Um sentimento meigo, estanque.
Que se houver por derramar, seja isso apenas saudade.
Que não se tenha nostalgia amanhã, mas hoje;
Que o frio toque, que ouse.
Que o tempo remeta-ma a mim quando assim o puder.
Não falo do atrito do tempo, falo do inacabado;
Falo dos doces das crianças, dos sonhos dos infindáveis.
Venha-me o que mais posso carregar: o que se sente não pesa.
Pesado é o divagar torpe, sem néctar, sem amor,
Sem amar.
O divagar sem melodia, sem asas pelo ar.