Eu tinha 8 anos. A cadela desapareceu. A nossa casa estava em construção. Eu tinha ido ao apartamento buscar não sei o quê. Ela veio atrás de mim. Ela não quis voltar comigo. Ficou ali parada à porta do prédio. Eu chamava mas ela não voltava. Depois a minha mãe explicou que sempre que iam ao apartamento lhe davam um biscoito, era isso que ela espera. Eu não sabia. A cadela nunca mais apareceu. Aquela criatura pequena preta nunca mais apareceu. A minha irmã olhava para mim e chorava. Eu não podia chorar. Não podia chorar porque sentia o peso duma culpa da sua fuga. Apesar da tristeza do seu desaparecimento, eu não podia chorar. Foi a primeira vez que me lembro de reprimir os meus sentimentos, engulindo lágrimas que nunca caíram. Eu tinha 8 anos e não podia chorar.