[Defina-me!]

Eu contemplo — contemplo as águas claras,

a extensa viagem do grande rio da fronteira —

um rio, sempre, sempre está na fronteira

por mais que a geografia diga o contrário!

De súbito, mansa como o rio,

tu chegas devagar, vens sobre mim,

e te esforças em tomar o meu ponto de vista,

mas, assim como o grande rio da fronteira,

tu não podes carregar as minhas dores.

E agora, por sobre os meus ombros,

juntas, no longe, o teu olhar com o meu;

e o teu olhar me apalpa, pondera, tem peso...

Então, as minhas lágrimas caem n'água,

tua imagem se desfaz num estremecimento,

e eu torno a ficar na margem, sozinho,

clamando para o surdo rio que passa,

e corre, e corre, e corre... sem cessar.

Não; não tenho jamais uma definição de mim,

como o grande rio, estou sempre na fronteira,

no limiar mágico do nunca-saber de mim,

não posso saber senão por ti — defina-me!

[Penas do Desterro, 29 de julho de 2009]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 29/07/2009
Reeditado em 01/07/2012
Código do texto: T1725000
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