Sobre, o fim.

[...] Um amor como o nosso

é um amor difícil de encontrar

Como podemos deixá-lo escapar? [...]

É que eu já esperava por ele. Lá dentro, sentia que ele estava próximo. Como se fosse um senhor de idade, cabeça branquinha com cabelos voando ao vento, feição séria. Aquele tipo de pessoa que chega com ares de noticiário mudo, porque a notícia num é das melhores, e nem precisa ser dada. Basta aquele olhar, o rosto de tristeza, e pronto! Você adivinha o final. É o fim chegando. Caminhando pra te contar que acabou. A sinfonia pára de tocar. A dança termina. Um silêncio ensurdecedor acompanha a notícia. É assim que o fim chega na vida da gente. Ele causa muito sem fazer barulho. A gente faz por ele. Depois que ele vai embora, tudo se mistura: descontentamento, choro engasgado que não cessa, soluços que não terminam, alívio porque enfim, temos o fim. Aí, fico pensando: porque será que falar do fim é tão dolorido? Porque quando ele chega, com raras exceções, a gente fica tão triste? Ah, coisa mais fácil do mundo de responder. É que as lembranças chegam juntinho com o fim, e você passa a lembrar de tudo que foi bom, de toda felicidade vivida, de todos os mimos, de todos os sorrisos e você começa a sentir falta porque lembra que acabou. Que não vai ter mais a vida de antes porque o fim levou tudo embora. Por isso que dói! Claro que é por isso. Porque o sentimento de saudade já invade a gente inteira, e faz com que a nostalgia tome conta. Por isso, o fim não é bem vindo na maioria das vezes. Ele rouba uma felicidade não vivida, que a gente acha que viveria se o fim não chegasse. Ilusão, por vezes.

Conto pra você que sinto a dor do fim dessa maneira agora. Porque já sabia que ele estava chegando, mas não o esperava. Não me preparei. Era mistura de não-querer com covardia de admitir que era necessária sua chegada. Era um sentir-se presa a uma realidade fantasiada. E dói ter que admitir isso quando o fim bate na porta e fala: acabou, mocinha. Perceber que seus sonhos não mais serão realidade, que não terá mais sorriso pra ver, conversa pra ter ou música pra ouvir. Não é bom, definitivamente. Mas, vejo que é preciso.

Por isso não tenho mais brigas com o fim. Ele sabe chegar na hora certa. Sabe ser dor, mas também consegue ser alívio. E juro pra você que tem hora que se faz necessário chamá-lo. Disso tudo, tiro uma lição: é que o fim depois de um tempo, vira saudade. Boa de sentir, te afirmo.

Conto pra você, o que contei há um ano atrás [afinal de contas, recordar é (re)viver]: “Um ano [agora dois] faz que paramos de tocar nossa música. Dia desses as lembranças voltaram, acho que pela proximidade da data. O bom dessa volta foi perceber que somente a parte boa da nossa música ficou embrulhada, o restante, já joguei fora. Hoje, quando a música toca, assim, sem querer, já não me invado de tristezas e saudades. Já não tenho mais isso comigo. Hoje, quando a música toca, assim, sem querer, gosto do embalo que ela provoca. Porque a história foi boa de viver. O enredo era bom, não tinha como ser diferente. E a música acaba trazendo-a de volta, mas sem a sensação de querer que permaneça. É só pra lembrar de um tempo bom. Tempo nosso. Música toda nossa. Cantada a duas vozes. Juntinhas. [...]”

E eu aprendo que nem sempre a dor prevalece. Que a nossa maneira de encarar o fim, pode fazer dele um aliado, ou inimigo. Depende da gente. Eu acho. E, fim.

Glau Ribeiro
Enviado por Glau Ribeiro em 27/07/2009
Código do texto: T1722589
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