[Quando o Sol...]
["Sun goes out, you'll be standing
You'll be standing all alone
Sun goes out, you'll be standing
You'll be standing all alone
All alone, all alone, all alone, all alone, all alone" -
Otis Taylor — "Ten Million Slaves"]
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Quando o sol se puser,
será assim, de um só golpe,
e não em um lento crepúsculo,
que baixará sobre mim
a tediosa sensação de estar só,
margeando silenciosas e frias veredas...
O absurdo é um choque, um soco,
e não uma cobra que rasteja, sutil —
é vôo de mergulho de ave de rapina,
flecha que cai, de chofre, sobre mim
sem me dar tempo para reação!
Quando o sol se puser — apocalipse! —
meus sentidos trafegarão nas sombras,
todas as músicas se tornarão em blues,
e sem transição, serei lançado, cruamente,
no beco hiante da angústia... angústia!
E no entanto, eu afirmo: eu amo a noite...
desconheço a noção de piedade, compaixão;
e se eu quiser ser apenas coerente, verdadeiro,
devo então dizer que desconheço perdão —
como no gado, as marcas são para sempre!
E assim, pensando nisto, eu me crio no instante,
e quando cai o célere gavião da noite,
suas garras dilacerantes abrem-me o peito,
e sei, mais do que nunca — eu estou só!
Por isto, quando o sol se puser
em meus caminhos, eu sei bem
o que vou sentir: a escuridão do Nada;
e terá sido assim, de um só golpe...
[Penas do Desterro, 26 de julho de 2009]