[Quem me Sentiria]
... E na verdade, depois de tão longa caminhada,
que sentimento se desenha na minha fisionomia,
na monotonia sem cor deste meu apagar das luzes?
Se me é dado manifestar alguma insegurança,
terei ainda dúvidas acerca dos meus sentires?
O tempo teria arrancado de mim aquela ousadia
de pretender ter certezas, verdades?
O que é feito de mim, que passei a confundir,
neste meu corpo ainda não tão cansado,
a pira acesa de desejos com a calmaria de planícies?
E se algum sentimento se expressa em minha face,
quem poderia percebê-lo... se estou só, se me sinto só?
E por que tenho esta preocupação,
ou esta necessidade descabida
de ser sentido por alguém? Carência?
Perguntas, só tenho perguntas,
e a única resposta cabal é a morte!
Quero apenas, em luz calma e suave,
pousar os meus olhos castanhos
na beleza que desfila na minha tela,
sem futurar, sem nada esperar,
afinal, se não sei para onde vou,
então, nem me importa o caminho —
rédeas soltas! — que o meu corpo
triunfe, enfim, sobre a minha,
E também sobre a tua razão!
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[Penas do Desterro, 25 de julho de 2009]