Fragmentos de um Diário: II Parte
Eu odeio todo o universo com suas milhões de galáxias inúteis;
Eu odeio toda a humanidade que se ajoelha diante de verdades divinamente falsas;
Odeio as casas, os prédios, as metrópoles, e os carros que abrigam esses bípedes simiescos,
Tão patéticos e estúpidos, feitos a imagem e a semelhança de um Deus-Sadista e absolutista.
Odeio com todas as minhas forças essa maldita sociedade inepta e embrutecida,
O dinheiro e a ignorância são os dois maiores males de nossa época.
Odeio com o ódio mais puro e refinado todas as religiões,
Seitas, facções, políticos, dogmas e crenças que escravizam a mente humana.
Odeio todos os imprestáveis deuses defecados pela arcaica e dúbia consciência humana;
Odeio todas as forças, leis cósmicas, ou sei lá que coisas e fatores
Os quais permitem que a Vida continue a existir.
Odeio com todas as células e com todos os neurônios de minha abstrata alma
Toda a Existência e suas finalidades tolas e descartáveis;
Odeio todos os tipos de emoções e sentimentos exteriorizados;
Odeio a natureza com suas inúmeras formas de vida,
Odeio este planeta rodopiante como um pião
que não nos explica porra nenhuma.
Eu odeio a consciência de ter consciência;
Abomino e desprezo a face da morte em todos os entes.
Mas principalmente eu me odeio a mim mesmo de todo o meu coração,
Por não ter encontrado absolutamente nada que explicasse e desenigmatizasse
Os mistérios da Vida e do Universo.
Porra! Merda filosoficamente imprestável!
Eu tento, tento, tento...
Porém não consigo decodificar a essência das coisas,
Nem obtenho respostas verazes e irrefutáveis sobre o que eu analiso,
Sobre o que eu penso,
Sobre tudo o que os meus sentidos percebem e captam das coisas...
Odeio todos esses embustes de Trivialidades que se denominam Existência, Vida e Morte.
Quem me dera ter o poder para aniquilar tudo,
Destruir completamente a tudo,
E não restasse nem o nada do Nada.
Toda a existência é uma praga cosmologicamente infecciosa.
Deveria tal praga ser desinfetada, sucumbida, exterminada.
A Vida é uma doença abominável se pensarmos com clareza.
A Existência é um maldito câncer maligno que se rasteja incomensuravelmente pelo Universo.
A patologia de meu ser substancializado pelo Vácuo e pela irrealidade
É pensar e sentir excessivamente demais,
Além do normal e do anormal,
Além de todas as fronteiras inimagináveis.
A transcendencialidade de meu Pensar e do meu Sentir
É querer ter todo o Cosmo e toda a Existência
entre as palmas de minhas mãos,
A fim de dissecá-las,
A fim de decifrar cada partícula, cada átomo,
cada pedra, cada organismo vivo,
Cada estrela e cada galáxia,
E tornar cognoscível tudo o que é Incognoscível.
O universo é um gigantesco manicômio
Onde todos os entes e seres estão enjaulados.
Este planeta é um palco produzido e dirigido pela Loucura;
Nossas vidas são biografias fictícias escritas no livro da Irrealidade.
Eu odeio tudo porque tudo é tão triste, e incoerente,
E impenetravelmente ilógico.
Ó Universo: expira teu último alento de tua disforme existência
Sob a lápide sempiterna do Nada.
Ó Deus, faça algo de útil a si próprio, e para nós também:
Enforque-se diante de todo ente e ser vivo consciente e inconsciente,
E que Todo o Universo cante jubilosamente o teu suicídio,
E que também a própria Existência faça o mesmo:
se autodestrua completamente.