Fragmentos de um Diário
Sinto-me tão cansado e exausto de tudo: de mim,
dessa hipócrita sociedade,
dessa competividade capitalista, dessa burguesia encarcerada
por hábitos e rotinas,
estou cansado de tudo...
Não quero nunca mais pensar,
Mas o único prazer que ainda me resta nesta vida é pensar,
é criar coisas através do verbalismo lingüístico.
Não quero mais sentir nada,
Não é um desejo budista,
Quero mutilar todas as minhas emoções,
Contudo preciso ter todos os sentimentos e emoções da Humanidade
reclinados em meus braços,
Para que eu possa dissecá-los, examiná-los, compreende-los,
A fim de usá-los em minha escrita.
Sinto vontade de não querer mais me levantar da cama,
E manter sempre a porta e as janelas fechadas de meu quarto,
E então apenas senti todo o fluxo de minha inexistência sem pensar,
Sem indagar.
Não tenho vontade de ver ninguém,
Nem de conversar com ninguém.
Por mais que se diga que o homem é um “um ser social”,
Eu aprendo mais sozinho na caverna de minha solidão e introspecção
Do que dialogando com esta falange demoniacamente humana,
tão estulta e estupidificada.
Eu sinto tão intensamente todas as maldades, dores, aflições, gritos de desespero
Que já se passaram nas almas e nos corpos de todas as pessoas,
E tudo isso forma um tipo de círculo de pura energia, e invade o meu ser,
E é tanta dor e tantos sofrimentos
Que às vezes acho que não vou suportar tudo isso.
É tanta perversidade e angústias que há neste mundo,
E eu sinto isso tão profundamente
Que acho que a Vida me usa como uma espécie de Porta-Voz
de todas as desgraças as quais a Humanidade já vivenciou,
E ainda, atualmente, sente e vivencia.
Sinto como se todo o Universo, e tudo o que reside nele,
Subisse em minhas costas, e meu corpo não agüenta mais suportar
todo esse colossal e pavoroso peso e fardo
Em cima de mim,
E dentro de mim.
Meus únicos amigos leais são meus pensamentos, minhas idéias,
Minha solidão, e todos os grandes pensadores, filósofos,
cientistas e literatos
Que já se tornaram pó em suas sepulturas.
Não há ninguém nesta época contemporânea que sequer toque na superfície de meu ser.
Meus sublimes amigos:
As grandes mentes e almas que tocam o âmago de minha alma,
Que mexem intensamente com minha consciência e com minhas emoções;
Todos estes meus estupendos e geniais amigos estão mortos,
E queria tanto ter um único momento em que eu pudesse conversar fisicamente com eles,
Senti suas vozes e suas presenças penetrando em todos os recantos infinitos de minha alma,
Contudo eu sei e sinto que seus escritos permanecem e são
mais vivos e reais do que eu próprio.
Um vácuo infinito se expande em cada parte de minha alma.
Sinto que estou me afogando numa tenebrosa escuridão da qual não sei se consigo escapar.
Tudo é tão irreal, tão artificial,
A existência em si é tão incoerente e absurda.
Minha doença é pensar demais, é investigar e examinar as coisas demais,
É ver demais,
É olhar demais, e querer ver tudo decodificado...
Minha doença é sentir demais tudo o que há na Existência e neste Universo.
Estou tão triste comigo mesmo,
Com a vida,
Com a humanidade,
Com tudo,
Pois procurei, e ainda procuro, a verdade que explique todas as coisas,
E quanto mais tento compreender, menos eu compreendo!
Sinto-me tão só,
Tão abandonado,
Tão descartado,
E esse vazio que dilacera a minha alma,
E que nenhuma divindade, amor, pessoas, conhecimentos, emoções,
ou qualquer tipo de coisa
É capaz de preencher, de suprir;
E esta maldita tortura em que me submeto
tentando equacionar as incógnitas da existência;
E é um trabalho tão cansativo, tão doloroso, tão frustrante.
Não me sinto feliz,
Não sou feliz,
Todos, no fundo de si mesmos, se sentem infelizes e insatisfeitos.
Como eu posso me sentir feliz quando tudo é uma Ilusão fictícia?
Como poderei...?
O que mais torna o homem infeliz é sua ânsia persistente em querer encontrar a felicidade.
A felicidade não existe,
A felicidade é apenas um desejo humano verbalizado.
Dói tanto tudo o que vejo,
Tudo o que penso,
Toco, ouço e sinto,
E meu coração suplica por um pouco de paz e alegria para a Vida,
Mas só há caos, tormentos e excessividades metafísicas dentro de mim,
E lá fora também.
Quando todos esses enigmas vão cessar?
Por que tudo é tão sem sentido?
Acho que sou a substancialização da melancolia e da dor.
Onde está a minha alegria de se viver?
Quem, ou o quê, roubou meu entusiasmo e encanto pela vida?
Ninguém sabe nada.
Um silêncio enlouquecedor esmurra minha consciência,
E um cheiro repulsivo de Morte se exala de todos os corpos e seres.
Meu coração é um oceano galáctico de tristezas.
Meu coração é o refúgio de todas as dores e desesperos da Humanidade;
Tudo está tão confuso dentro de mim,
Talvez porque tudo é em si confuso e insolúvel.
Queria existir sem saber que existo.
Estou pedido no Labirinto do Pensar e da Tristeza.