Ah, se eu fosse marinheiro...

"... Era eu quem tinha partido

Mas meu coração ligeiro

Não se teria partido."

Já se apaixonou por alguma Marinheira? É, Marinheira. Feminina. Mulher. Porque como muita gente pensa, não existem somente Marinheiros por ai não. Eu me apaixonei por uma Marinheira, começo do meu erro. O não-saber pode até levar a culpa no início, mas o culpado mesmo fui eu, por teimar em amar a Marinheira. Conto pra você como foi:

Era verão e Marinheira chegou na minha vida. Tinha uma beleza que ia muito além dos cabelos soltos ao vento, boca vermelha, olhos grandes e cheios da vida. Através daquele rosto de formas perfeitas, Marinheira seduzia sem falar. Tinha perfume de jardim no corpo, e um sorriso de criança que me desestruturou desde o primeiro olhar. E eu tinha certeza que Marinheira também havia se apaixonado desde a troca de sorrisos que tivemos naquela tarde de um dia qualquer. Naquele mesmo dia o corpo dela inteiro passou a ser meu. Cada pedacinho foi milimetricamente medido, desenhado na palma da mão, beijado. Marinheira era mulher que eu queria pro resto dos meus dias e nossos dias seriam sempre como o primeiro. E aquele foi o melhor verão que já tive nessa vida. Quente, literalmente.

Outono foi ainda em clima de verão. Marinheira tinha fome de viver, e me levava junto pros momentos mais absurdos e inesquecíveis de nós dois. Até os programas mais bobos, eram perfeitos demais ao lado de Marinheira. Um passeio no parque era motivo de risadas que faziam a barriga doer. Um cinema era motivo de uma noite inteira de vinhos e amores-bem-resolvidos. Ela tinha o dom de transformar qualquer rotina em momento excitante e delicioso, daqueles que a gente não mais esquece. Aliás, difícil mesmo era não recordar todos os minutos vividos ao lado de Marinheira.

Daí que veio o inverno e agora a história fica em preto e branco. Bem a cara do inverno, passei a achar. Marinheira se foi. E foi aí que descobri que se tratava de Marinheira. De gente que não consegue muito se prender a lugares, momentos e pessoas! Marinheira tinha fome de vida, já contei. E daí que ela tinha que viver tudo, em todos os lugares, e com sentimento de recomeços. E a gente não era mais começo. Ela tinha que ir. E foi assim, somente com essas letras que ela se foi: eu tenho que ir. O inverno foi o mais frio e demorado da vida inteira, e passei a não mais gostar de frio. Vazio. Sozinho.

Vem a primavera, que prometia gosto de inverno até amargar, mas quem disse que a vida é previsível? Bem o jeito de Marinheira: isso de surpresas, dia-diferente-do-outro mesmo quando se faz a mesma coisa sempre. Marinheira sabia aproveitar a vida, e eu aprendi com ela que pra voar não precisa tirar o pé do chão. Daí que num dia colorido, Marinheira volta com mesmo sorriso do primeiro dia. Como se jamais tivesse dito adeus. Como se fosse de novo, o nosso começo. E a primavera é a estação que mais se parece com Marinheira: por conta das cores, das flores e porque a gente nunca quer que primavera vá embora, mas a gente sabe que um dia ela vai. Igual Marinheira. Ah, se eu fosse marinheiro...

Glau Ribeiro
Enviado por Glau Ribeiro em 24/07/2009
Código do texto: T1717639
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