Ninfa Perdida
Num caminho nublado e de carpete de folhas caídas, encontrei uma ninfa cheia de laços e babados, que dançava solitária. Dançava apenas para si mesma, e ao ver me plateia chamou-me. De tão brilhante, a ninfa me ofuscou, mas dancei querendo morrer ali.
Ela não queria música, nem anéis, nem me maquiar, tão pouco ela cantava. Dançava no próprio ritmo e me pedia silêncio. Era para eu apenas ser seu par. Tentei fazê-la dançar em linha reta, mas ela só aceitava o giro. Soltei-me mesmo que não quisesse, pois ela girava sobre si sem ver o sol se por.
Quando olhei-a, ainda tonto, já havia uma nova plateia. A ninfa, agora avermelhada, estende a mão para que alguem lhe sirva como par de novo. Hesito, pois quero dançar com ela, só que minha carruagem, a esta altura, já é abóbora.
O sol se esconde, o barulho da chuva é tão doce que me encanta, eu suspiro pela agua que corre em minha face, as correntes elétricas pulsantes me deprimem e me orgulham. Já não a vejo mais, só ouço dela os pezinhos pisando em água.
Estou inundado de mim mesmo, preso nos meus próprios e todos sentidos.
Rezo por anjas, talvez fadas, que toquem liras para eu dançar, como os corvos que voam para o sul ao som do outono. Eu dançarei sob as liras das anjas, a dança dos corvos.