Rio! Paráfrase de Mário de Sá..Carneiro
— Rio! Rio! — exclamava o poeta — Por que o amo eu tanto? Não sei… Basta lembrar-me que existo na capital do Prazer, para uma onda de orgulho, de júbilo e ascensão se encapelar dentro de mim. É o único ópio negro para a minha dor — Rio!
"Como eu amo as suas ruas, as suas praças, as suas avenidas! Ao recordá-las longe delas — em miragem nimbada, todas me surgem num resvalamento arqueado que me traspassa em luz. E o meu próprio corpo, que elas vararam, as acompanha no seu rodopio.
"Do Rio, amo tudo com igual amor: os seus monumentos, os seus teatros, os seus bulevares, os seus jardins, as suas árvores… seu imenso mar, suas montanhas de açúcar...Tudo nele me é encantador, me é lúdico.
"Ah, o que eu sofro um dia que passo longe da minha Cidade, sem esperanças de me tornar a envolver nela tão cedo… E a minha saudade é então a mesma que se tem pelo corpo de uma amante perdida…
"As ruas tristonhas de Brasília, descia-as às tardes magoadas rezando o seu nome: O meu Rio… o meu Rio…
"E à noite, num grande leito deserto, antes de adormecer, eu recordo — sim, recordo — como se recorda a carne nua de uma amante dourada!
"Quando depois regressar à capital assombrosa, a minha ânsia será logo de a percorrer em todas as avenidas, em todos os bairros, para melhor a entrelaçar comigo, para melhor a delirar… O meu Rio! o meu Rio!…