Mataram o amor!
- Mataram o amor! Gritava um homem, numa rua movimentada.
E o povo que na hora ali ia passando... passava.
Não fosse a vida tão dura e a poesia tão pouca... n’alma.
Não fosse tão curto, o tempo...
Talvez parassem... e ouvissem ao seu lamento.
Mas ninguém o escutava.
- Mataram o amor! Os pulmões estourando, no seu maior brado.
E as faces sem rosto, impávidas, sequer o miravam...
Não fossem as coisas tão impessoais e todos tão indiferentes
Não fosse a realidade tão “real”, esmagadora, onipresente
Ouvindo a estranha sentença, talvez alguém resolvesse parar...
Mas ninguém parecia o escutar.
- MATARAM O AMOR! O franco desespero tomando vulto
O tremor aparecendo, o choro incontido vertendo
As lágrimas escorrendo, sem pudor, no rosto resoluto
Não fosse tudo ser exatamente como é...
Talvez do pobre homem, alguém tivesse compaixão... mas não.
- Mataram...
A frase ficou incompleta, soluçava, a voz lhe faltava...
Um homem parou a sua frente, baixou-lhe os olhos, tristes:
- Sim... mataram! Disse simplesmente...
E seguiu sua caminhada.
O homem ajoelhou sob o peso dessa afirmação, arrasado, na rua suja do centro...
E fez-se o silêncio.
L>K