Quadros
É como o não-despertar. Ou talvez, acordar de um sonho senil; do sono juvenil. É como o despedir da infância, que só acontece alguns anos mais tarde.
Seria, talvez, atar as duas pontas da vida e redescobrir na velhice a adolecência.
É como o esvair da fumaça nos pântanos profundos numa noite fria, sem luz, sem lua. Ou ainda, o despertar dos séculos na carne putrefata.
Talvez apenas se possa sentir o arrepio, um leve arrepio úmido, de quanto não há sol, nem vento, nem chuva, mas apenas a sobriedade lúcida da insônia diurna.
É possível que ainda haja alguma triste reminiscência, guardada num canto empoeirado e vazio das mentes bitoladas. As mentes esclarecidas, nada guardam, a não ser a mágoa por terem sido abertas; a ignorância, nessas horas, é uma bênção dos céus decaídos.
O não-despertar agora se torna apenas um quadro distante, uma lembrança turva da imaginação. E eis que o sonho senil se desfaz na mesma cortina negra com a qual o sono juvenil se faz.
É apenas um sonho dentro de um sonho.