Das janelas do Tabuleiro
Das janelas do Tabuleiro
Da janela do tabuleiro eu posso ver a minha história passando. Parece que o tempo não passou e que todos ainda estão ali.
Das janelas do Tabuleiro eu vejo a ordenha do gado e a ceifa da roça, o aboio caboclo sussurrado pelo vaqueiro em seu cavalo. Vejo também a saudade dos abraços no fim de tarde, dos balanços feitos de corda e a tábua da carroça de burro. Vejo a saudade dos mimos que ela nos dava... Que ele nos dava...! Que saudade!!!
O tempo não nos deixa alternativa e vai levando tudo o que pensamos ser nosso, deixando em seus lugares somente o passado para contar.
Das janelas do Tabuleiro eu vejo a infância sonhada, a primeira cavalgada, a primeira namorada... A primeira muita coisa que só no tempo é que podemos achar agora.
De lá, do Tabuleiro, não saiam só os quitutes de “vó”, saiam também a vida que pedimos a Deus, os sonhos que sonhamos e as alegrias que cultivamos sem saber. Lá não é apenas uma terra, é mais que um chão, é o meu sonho feliz de infância, de fazenda, de roça, de vida.
Nas janelas do tabuleiro eu desenhei o meu destino, eu criei os meus meninos, eu fiei o tecido de minha vida e fiz o meu gesto mais sublime.
Das janelas do Tabuleiro eu amei o mundo e varri o passado que não tive e tornei presente todo momento vivido ou para viver.
Das janelas do tabuleiro nasceu o meu novo ser.
Beth Ferreira