SINO

O sino traduz a tarde em quartos de hora, maçante,

como se fosse necessário esse tipo de ajuste

ou a vida carecesse de um rigor tão óbvio.

Sobrepõe-se á linguagem das folhas,

e dos seus segredos de sombra e luz.

Distrai da mensagem de beleza fundamental,

que veste de ouro, coado como num véu,

os casarios antigos do largo silencioso.

Mas quebra a circunspeção do lugar

que, de outra forma, talvez fosse triste,

apenas ecoando rumores de um tempo

em que os relógios não cantavam

as tardes fragmentadas

em gritos de bronze.

Para além do biombo verde-folha,

algumas vozes piam vida

em descompassos de acaso.

E eu registro o silêncio que,

mesmo assim,

existe como um beijo suave

encantando o mundo...

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 19/07/2009
Reeditado em 20/07/2009
Código do texto: T1707635
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.