SINO
O sino traduz a tarde em quartos de hora, maçante,
como se fosse necessário esse tipo de ajuste
ou a vida carecesse de um rigor tão óbvio.
Sobrepõe-se á linguagem das folhas,
e dos seus segredos de sombra e luz.
Distrai da mensagem de beleza fundamental,
que veste de ouro, coado como num véu,
os casarios antigos do largo silencioso.
Mas quebra a circunspeção do lugar
que, de outra forma, talvez fosse triste,
apenas ecoando rumores de um tempo
em que os relógios não cantavam
as tardes fragmentadas
em gritos de bronze.
Para além do biombo verde-folha,
algumas vozes piam vida
em descompassos de acaso.
E eu registro o silêncio que,
mesmo assim,
existe como um beijo suave
encantando o mundo...