CONCHA
A vista da janela da sucata das ideias deslumbra no negativo sépia. Desmonto um cigarro na cor do sopro de mais uma passa na porta aberta do pensamento. No fim chego à câmara escura dos meus olhos e espreito a claridade do entendimento. É na amálgama das vidas insípidas que me vejo espanto. Eu, um reles ponteiro caído da memória de um quadro de Dali, persistente na moleza das horas. O tempo esbarrou redondo e partiu-se em espaços triangulares. Na pintura esbatida persigo o assassínio da arte primária no pegajento vício da mudança. É a angústia que me assoma na adulteração da matéria, em contraposição à dureza de um cheque engolido ainda no banco da avareza. Também eu quero a concha fortaleza onde guardar a moleza dos meus dias e entreter-me a pendurar fios de ovos do tecto sobre pratos imaginários no ocaso de um pincel. Talvez me ajude assim a mim mesma a desconstruir este caos onde me mutilo a preto e branco. Talvez assim eu fuja do meu detalhe e me incruste na paisagem sucateira...