Na estrada...
Isabel, para quem não se recorda, é a minha personagem favorita... Sei que as outras ficam tristes, quando ouvem isso... Mas, é difícil esconder esse amor que sinto pela minha criação.
Isabel é o avesso do que eu indico... Talvez seja isso.
Ontem, caminhávamos pela rua sem destino certo. Fazemos isso sempre, quando não há muito que fazer ou quando a inspiração fica falha...
Aqui, entre as montanhas e o choro das cachoeiras, estamos em harmonia... Não há nada que possa nos retirar da cumplicidade.
Isabel tombou ao chão... Deitou-se na estrada fria... Fiquei olhando, sem saber o que fazer.
Disse-lhe cuidado... Que poderia vir um carro... Falhei-lhe até do asfalto quente...
Nada!
Olhava atenta para o céu... Colhia a lua escondida por de trás do sol...
Falou baixinho... Disse-me que a lua ocupa o lado opaco do dia... Que fica escondida a planejar o ataque da noite...
Isabel anda solta pela rotina dos seus neurônios... Acredito que fica em choque de vez em quando... Ou é tão centrada que me deixa meio zonza...
Fez anjos, no asfalto... Encostou-se aos joelhos... Ficou em útero formato...
Sorriu... Olhou para mim... Falou de contos passados.
Isabel quis correr... Falou dos desencantos... Falou que o “amor é coisa pra quem tem medo”...
Segundo a sua teoria... Ama-se para procurar abrigo... Cuida-se do outro para deslocar o olhar do próprio umbigo.
Mas, de acordo com Isabel, se o olhar for engano... Melhor retornar a cegueira...
Coisas que Isabel fala aos quatro ventos...
“Gosto tanto do vento!”... Eu disse, enquanto rastreava a areia fina com um graveto que eu encontrei...
Isabel olhou-me com incerteza... Disse: “Vento?! Pra quê?... Gosto de coisas paradas... Posso moldá-las... O teu “vento” deixa-me sem formato... Leva-me pelos cantos... Enverga-me a coluna... Fico nua!”
Nem respondo. Isabel fala mais do que a sua autora... Ela é vento e nem percebe...
O dia foi findando... A lua aparecendo... E na estrada...
Fui interrompida... “Olha só como é estranho...”
O que Isabel mostrava era o dia indo embora... “Leva-me para casa... Cansei de ficar parada... Existir é coisa chata”.
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