MEU AVÔ
Seria ousadia simplesmente definir-te bom ou mal
Foste um homem moldado ao rigor dum tempo
Onde se dizia fraqueza demonstrar o sentimento
A miséria não permitia espaço a qualquer alento
E morrer de malária era destino quase sempre fatal!
Maceraste juta e escureceste a pele no seringal
Ambicionando a riqueza que não traz lenimento!
É tão efêmera quanto a folha caindo sob o vento
Adotando ações que conduziram ao sofrimento
E à existência repleta de remorso marginal!
Semelhante a ti, eu sou afeita à emoção total
Sem condescendência, sigo num contínuo advento!
Contraponto ao frescor gerado pelo barlavento...
A intensidade causando-me desconforto e tormento:
Ígnea rocha a rolar no declive lírico do madrigal!
Proteges-me agora quando pareço chegar ao final
E reflito acerca das motivações permeando a atitude
Reconhecendo ser defesa a indiferença amiúde
Pois, na fuga, o amor, a expressão raramente alude
Esquecida na mente a eloqüência a correr do teu sal!
Recebe, hoje, o meu poema como transparente sinal
De quem tenta compreender a natureza humana
E distante de pré-julgamentos a ti, com ternura, ama
Livre dos medos e divagações duma fantasia infernal!
Então, me aceita... e com carinho, acolhe-me!