O teatro da Irrealidade
Meu pensamento é uma faca afiada a cortar a substancialidade das palavras,
E a estripar o ventre de poemas e de sons,
A afagar em cicatrizes incicatrizáveis a corporeidade intangível do Deus-Semita.
O chão acaricia os meus pés agnósticos,
Os cães que passam no meio da rua me olham como se de fato eu existisse.
Sinto a pulsação as árvores ao não tocá-las,
E as pedras e as sombras das coisas me apavoram
com a sua nudez incompreensivelmente existencial,
e eu esfrego os meus olhos com as mãos de meus pensamentos,
mas as pedras, os seres, os entes quaisquer, a sombra das coisas persistem a existir,
como se fossem reais!!!
Meu pensamento é uma navalha cortando os véus plúmbeos que encobrem a verdade das coisas;
E ao descortinar todas as coisas, só encontro a vacuidade monstruosa
que se ocultava dentro de todas as coisas e seres,
e todos os fragmentos desconexos dessa horrenda vacuidade das coisas, do mundo, das incontáveis galáxias, não preenchem as lacunas desse angustiante quebra-cabeça
que se chama Vida e Existência.
Até o pulsar de meu coração sente que é fútil caminhar por esse planeta irreal;
A esperança e a fé são doenças paridas pelo Nada
que hipnotizam a alma das pessoas com ilusões.
Até minhas lágrimas se sentiram artificiais e fictícias ao serem choradas.
Apalpo-me, mas não me encontro;
Olho-me, contudo não me vejo;
Penso, por isso não existo.
penso-me, esmurro minha consciência, porém nada eu sinto,
pois o que não se existe não pode se auto-visualizar,
não pode se apalpar, não pode se sentir,
embora algo dentro de si pense por si próprio,
independentemente de nosso pseudo-arbítrio,
como se eu, e tudo em mim, não fosse eu mesmo,
e tudo lá fora não é o que imaginamos que é.
E meu ser hipotético mergulha em todos os abismos,
penhascos,idéias e teorias,
A fim de encontrar alguma coisa,
Mas o que eu encontro são somente sombras palpáveis
de Ilusões em tudo.
Meus pés imateriais caminham na epiderme da aurora boreal
refletida no lago cristalizado pelo gélido Vácuo.
O que estou buscando jamais existiu,
Assim como também o ser que algo procura...
Toda a materialidade aparentemente incontestável das coisas, dos seres e do mundo
Existe como se não existisse,
O que há são apenas verbos inconjugáveis e pulsações cardíacas da Irrealidade que se substancializa em tudo.
Navegando por idéias impensáveis,
Na superfície impenetravelmente verborrágica da existência,
Introduzindo conceitos e certezas onde só há insondabilidades,
E nas mãos vazias de Deus apenas encontrei mentiras, absurdos e incoerências.
Qual é verdadeiro e sincero motivo de Deus não querer revelar
seu corpo para toda a humanidade?
Terá Deus vergonha de sua aparência?
Por que ele continua se escondendo em sua caverna inacessível?
Será que Deus adora dramatizar o misterioso em tudo?!
Ou o grande mistério é que na verdade nunca houve Deus algum?
Por isso Ele nunca pôde se mostrar a ninguém...
E o cansaço de todos os navios de todos os séculos passados
Atracam e ancoram no cais de minha alma Irreal.
Todos nós somos personagens fictícios dramatizando
no insano Teatro da Irrealidade.