Inebriante
As hortências chamaram a minha atenção. De repente, da minha varanda, elas desfilavam com todas as cores possíveis atraindo o meu olhar. Elas estavam lindas!
Pensei: “mas desde quando essas flores estão nesse jardim, que eu nunca reparei?” Elas estão lá há muito tempo, talvez pedindo a minha atenção e, nem assim, dei bola.
Então, por que hoje, elas me intrigam? Não é primavera, estamos em pleno verão e elas colorem minha vista com a alegria que lhes é peculiar.
Mostrei-as à menina que se encantou. Contei a ela também sobre as flores que se abrem à noite e entorpecem o ar com o seu perfume inebriante: as damas da noite. Claro que ela quis ir ver e sentir.
Mas era uma noite fria e as daminhas recolheram-se em seus leitos à espera do calor que, logo, há de voltar. A menina ficou curiosa e disse que queria saber tudinho, tudinho.
Voltei para a casa, debrucei-me sobre a varanda e deixei Nana me ninar. Sonhei que viajava entre as estrelas e que uma delas era um imenso jardim florido. Não haviam flores cantantes, nem falantes, só um colorido que chegava a doer a visão de tanto esplendor e o aroma de mil perfumes misturados. Era o planeta das flores.
Acordei meio bêbado e ainda impressionado. Olhei para o jardim e as hortências fingiam de nada saber. Deixei quieto e fui me deitar. Desta vez, para dormir de verdade. Só que antes, peguei um regador e fui dar o meu boa noite às princesinhas.
Conto publicado no livro Viver: um jogo perigoso, de Márcio Martelli, Editora In House (2009)