"Pergunte-me"
Sobre o indefinível que é meu pensamento pouca ou quase nenhuma palavra o revela. É obscuro como a caverna de Grenouille. São eles, os meus pensamentos, que se purificam na escuridão, padecendo o medo antes que ele –o medo, faça-os padecerem na claridade do dia. A loucura, inerente ao homem, torna-se companheira eterna, quando acolhida neste processo de reconhecer o próprio desconhecido em si. E, nesta, que chamo de “limiar da lucidez insana” que contemplo o auge da minha felicidade: ser a constante dúvida, irrespondível infinitamente.
Se ausente estou, reclusa em minha casca protetora, produzo o meu silêncio e o transformo em períodos extensos e complexos, com o único intento de perpetuar a dúvida.
Ontem, meus pensamentos fizeram-me atleta: percorri quilômetros e transpirei todo o meu desejo incontido; talvez eu realmente não tenha merecido senti-lo. Eliminei-o com as gotas de suor que gotejavam do meu corpo e pelo meu corpo; tornaram-se matéria prima de beija-flores.