- CAPÍTULO 1- .::Sobre palavras guardadas nas gavetas::.
Das perturbações que escritores carregam logo quando iniciam suas vidas entre páginas e rabiscos, nenhuma delas parecia acompanhá-lo.Ao fechar os olhos depois de algumas linhas escritas, ele sabia que poderia encontrar o que mais queria ao tentar dormir, maquinaria algumas horas, e logo afundaria em sugestões oníricas, nada lhe perturbaria agora, quando desligava a luminária, não se importava com a luz que invadia o quarto, por frestas, luz vermelha de sangue crepuscular, ou iluminação do gênero. Escolhia voltar-se para a parede e deixar que tudo se organizasse enquanto não se movia.
O que estava mais ou menos começando agora, ele sabendo ou não, era que muita coisa mudaria sem que pudesse perceber, por vezes quando se deitava para pensar, sentindo a alma extenuada, mas tendo os pensamentos firmes, perguntava-se se era por aquele caminho que deveria andar, se era por ali mesmo, tateando o que outras pessoas escreviam para saber se era leitura verdadeiramente agradável.
Mesmo não sendo nenhum perito em escritores ou tendo qualquer relação com grandes produções literárias, gostava de saborear trabalhos escritos por grandes artistas, os mais antigos lhe forçavam a perguntar muitas vezes, sobre o que estariam calçando ou com o que estariam escrevendo, até mesmo no que poderiam estar sentados, propunha-se a responder perguntas por algum tempo, até conseguir resultados, animadores ou não. Sabia, ou acreditava que sabia muito bem o que escrevedores estavam pensando, ou sentindo ao escrever determinadas páginas, ali estava o que lhe impulsionava a continuar a classificar livros, antigos ou novos. Era como as flores que renasciam da relva castigada pelo inverno a vitória da estação das comédias sobre o drama, sobre as três fúrias.
Gostava de saber o que estivera perturbando grandes artistas, e via isso nas páginas que lia com atenção, e assim sentia-se melhor, maior e melhor, sentia-se como se não houvesse alguém que pudesse fazer o mesmo com o que escrevia, como se ninguém lhe entregasse que não passava de um escritor amador, um escritor de gaveta... Mas mesmo se tentassem não poderiam lhe apresentar tal realidade, nem nua, nem crua. O fato era que estava tudo bem guardado, tudo bem hermético, naquela gavetazinha que tinha fechadura. No criado-mudo.