VALOR DA HUMILDADE

Nalva: Pensando na humildade foi que fiz esta canção,

entoada e ritmada com o olhar dos pobres dias,

despretensiosa de resplendores e holofotes,

feito estrela bem distante e bem risonha,

daquelas que se tem que forçar vista pra ver brilhar...

Hilde: Mas não pense que pelo brilho tênue e distante,

não possua a real importância que lhe é intrínseca,

desde sua reluzente nascença. O que deseja é o

vislumbrar da tua necessária atenção e presença

a emprestar o brilho da pujante elegância.

Nalva: Eu fiz esta canção para a singeleza da terra molhada

e o perfume que exala do abraço da tarde com a manhã

no chão que nada cobra para trazer mensagens da chuva,

como quem se entrega ao dominante desígnio das águas,

retendo nas entranhas o ciclo da vida em continuação...

Hilde: Aí reside a magia advinda do ventre da terra a parir poesia e fantasia na sincronia da noite a vestir com seu manto escuro os dias, fecundando com suavidade e umidade as grutas e os grotões, fazendo brotar a maciês da relva no meio da selva, enquanto chove dos olhos do céu a beleza infinita a despertar a pujança da vida dançando nas mentes inocentes a ternura para a qual enternece a prole e a messe.

Nalva: Eu fiz esta canção ao sofrido homem do campo,

ao seu tímido e imprevisto olhar rumo à plantação,

às suas mãos tais qual adobe pelo tempo corroído,

como quem nos dá, com sua miséria, o próprio pão,

nobre, ostentando alegria ao alimento ver brotar...

Hilde: E como é belo ver nascer o produto do suor honesto,

confrontado à esperteza astuta de quem não labuta,

nem vai à luta para conseguir retirar o fruto sofrido

do trabalho, no chão agreste com suas poídas rôtas vestes .

Aí se pode perceber a diferença do aproveitador com o

trabalhador do amor ao bem intenso.

Nalva: Eu fiz esta canção da natureza para o tão frágil homem,

que pelo orgulho e vaidade se deixa facilmente violentar,

arrogante, a embebedar-se do poder e putrefatas vitórias,

perdendo a visão da distante e tímida estrela,

a fragrância da terra molhada, o valor do homem pobre a lhe

prover pela força das mãos...

Hilde: E esta canção pode e deve ser entoada e cantada em todas

as nações para que o amor puro se manifeste nos frios corações

ou nas mentes poluídas pelo pecado da opressão e da ganância

a desvirtuar as relações entre os homens e os seus sucedâneos

na cadeia das atuais e futuras gerações.

Nalva: Pensando na humildade foi que fiz esta canção,

protagonizada pelo belo não tão fácil de se enxergar,

omitido nas instâncias pequeninas, jamais exaltado...

Entoada e ritmada nos momentos hodiernos, minha utopia,

roga que alguém a perceba, ouça, aprenda um pouco,

solfeje e interprete a canção de ser humilde, ser feliz.

Hilde: Foi pousando os meus olhos cansados por tanta injustiça que reina no seio da insensatez que comanda o teatro dos absurdos, que a tua canção entrou pelos meus tímpanos como um sopro divino a comandar meus sentidos e tentar responder em versos melódicos o encanto que o teu canto produziu em mim que não resisti em vir te aplaudir... De pé... Aqui debaixo dos coqueirais tendo só o mar como testemunha.

Dueto: Nalva Ferreira e Hildebrando Menezes

Navegando Amor
Enviado por Navegando Amor em 04/07/2009
Reeditado em 04/07/2009
Código do texto: T1681828