O nascimento do homem ruim
O nascimento do homem ruim
1 junho 1989
“E o caracol, pacífico burguês da vereda,
Ignorado e humilde, a paisagem contempla.”
Garcia Lorca
Marta vai até junto do rio
e ali colhe belas flores.
Volta à casa com um ramalhete
e o deposita no chão onde iras tu nascer.
Paola pensa que o que está por vir
é um gêmeo de outro gêmeo,
por isso, tece + largo o cobertor
que ira te cobrir.
Virgínia prepara uma música em seu violão.
Uma musiquinha para ninar teu sono de bebe.
Regina é tua mãezinha.
Ela é que prepara em si
o leite que ira alimentar-te.
Morgana não sabe coisa alguma fazer.
Pensa em contar-te historinhas.
Melissa imagina que – pra ela –
bastará apenas olhar-te.
Verônica nem mesmo – ainda –
te conhece, mas cospe no lugar
onde iras nascer.
Cospe nos cobertores, nas flores.
... amanheceu, e tu, que agora
chamo de você, nasceu.
Todas as mulherzinhas
olham para seus olhinhos e tremem.
Desde já, sabem que você é ruim.
Verônica olha pra você e lhe ama.
Ela deseja alguém esquecido;
ama o desprezado, o diferente.
Você nasceu,
E as flores arrancadas murcharam.
Mas as do rio ainda estão belas...