VIAGEM AO MEU ENCONTRO

Preciso escolher a estrada para ir embora, mais antes preciso revisar o carro. Nada de muitas malas, roupas e apegos. Levarei o essencial por que minha alma já está pesada demais. Pelo caminho, já nos primeiros kilômetros, espero ir deixando para trás tudo que me pesa. Também não quero olhar pelo retrovisor e chorar por algo que joguei ao vento. Se o farei, é por que será necessário. Quero olhar para frente! Ver o que se apresenta diante dos meus olhos. Observar cada recanto da estrada que irá dar em algum lugar de Minas. Observar o gado que pasta ignorando o que acontece no mundo. Cumpre seu papel, faz o esperado para sua espécie. E é feliz e nem sabe o que é, ser infeliz. Quero também sentir calor, embora não goste, mas ando precisando tanto do sol e ele insiste em se esconder de mim. Vou parar na “venda” da estrada, superar minhas frescuras e tomar café no copo que conhece mais a cachaça de muitos de todo dia. Lá pela frente sei que vou encontrar um menino de calção surrado, sem camisa, pés descalços e tentando tirar uma fruta do pé. Vou oferecer ajuda e ele rirá de mim; não um riso crítico mas de espanto e encanto pois toda novidade é bem vinda aos olhos de uma criança. Vou comer uma goiaba verde, quase sem gosto de nada, mas deliciosamente saborosa ao lado daquele garoto de sorriso solto como uma pipa ao vento. Verei nos olhos dele uma ternura e uma graça que nunca vi no povo da cidade. A cidade destrói retinas e também, almas. Vou seguir viagem, fotografando o mundo que ainda vou conhecer. E quando voltar, se voltar, serei outra ou a mesma de quando era criança. Às vezes é preciso partir e nos encontrar onde deixamos nossas raízes. Espero ao voltar quando me olhar no espelho, me veja tal como era antes de me perder de mim. Até mais!

Kátia Storch Moutinho

02/07/2009