CRIANÇA
Que saberás tu, criança,
do tempo que gasto nos caminhos
longos do que eu sou?
O que uns escrevem no papel,
tentando capturar a Vida,
o momento,
ou um qualquer ponto exato,
eu escrevo no Tempo,
num permanente lavrar de um chão
imenso e permanentemente fértil,
mas onde tudo o que medra
são apenas as nuances várias
de um mesmo gesto de plantar,
sempre sob a consciência atroz
da eternidade e da História do ser...
E no girar desse ponteiro louco,
em brilhos e flashes tão rápidos
que mal espelham a surpresa
com que me olho surpreso,
cruzo-me com os outros.
Com as expectativas dos outros,
sempre tão altas e crescentes,
buracos tão negros sugando-me,
e absorvendo-me a energia,
sem imaginarem como é pouco
esse pouco que mando em mim...
( È sempre tão pouco,
o que mandamos em nós,
o que determinamos em detalhes...
E não há muito, do muito que se faça,
que dependa apenas do que queremos,
mesmo porque nem todos os rumos são caminhos,
e nem sempre, em cânticos, se podem erguer
todas as vozes que dizem a nossa voz...)
Julho/ 2009