CRIANÇA

Que saberás tu, criança,

do tempo que gasto nos caminhos

longos do que eu sou?

O que uns escrevem no papel,

tentando capturar a Vida,

o momento,

ou um qualquer ponto exato,

eu escrevo no Tempo,

num permanente lavrar de um chão

imenso e permanentemente fértil,

mas onde tudo o que medra

são apenas as nuances várias

de um mesmo gesto de plantar,

sempre sob a consciência atroz

da eternidade e da História do ser...

E no girar desse ponteiro louco,

em brilhos e flashes tão rápidos

que mal espelham a surpresa

com que me olho surpreso,

cruzo-me com os outros.

Com as expectativas dos outros,

sempre tão altas e crescentes,

buracos tão negros sugando-me,

e absorvendo-me a energia,

sem imaginarem como é pouco

esse pouco que mando em mim...

( È sempre tão pouco,

o que mandamos em nós,

o que determinamos em detalhes...

E não há muito, do muito que se faça,

que dependa apenas do que queremos,

mesmo porque nem todos os rumos são caminhos,

e nem sempre, em cânticos, se podem erguer

todas as vozes que dizem a nossa voz...)

Julho/ 2009

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 02/07/2009
Código do texto: T1678728
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