Instigante
Penso nas infinitas possibilidades de ser feliz todas as vezes que o teu instigante olhar, profundo e negro feito noites sem luar observa os meus movimentos. Abro os olhos e sinto o céu, tão perto e simples, suave como gotas de estrelas em teu corpo moreno. Fecho os olhos e logo adiante, quando a madrugada se acende dentro da loucura do amor, permito-me ser livre e caminhar nua ao sabor do vento de verão. Porque você existe e apenas a luz que emana dos teus olhos lascivos preenche-me de êxtase, dentro da imensidão azul como ondas no mar.
Vamos tomar um banho de chuva? Quero sentir a delícia de poder tocar-te. Puro desejo. Como desejo tocar violoncelo de pernas bem abertas para você meu bem! Meu menino de olhos grandes como a lua. Vem. Dê-me as mãos. Vamos caminhar descalços na areia da praia. Desperta desse devaneio e segue comigo, por trilhas e labirintos. Permita-me apresentar-lhe as estrelas do mar, a dança das gaivotas rasgando o céu como as meninas bailarinas começando a vida. Vem. Bem devagar. Penetra-me intenso quando os anjos tocarem os hinos.
Apenas você sabe como me fazer sonhar de olhos bem abertos. Nem preciso acordar. Perto de ti sinto-me como que flutuando. Livre de todas as coisas que me aprisionam. Livre das circunstâncias e dos temores da solidão. Atravesso os oceanos em busca de tua presença, por um instante, por uma vida inteira se o destino permitir. Será possível crer no impossível? Um amor entre anjos encarnados. Há como explicar quando dois olhares se cruzam e viajam juntos, atravessando por infinitas décadas uma jornada?
Diante do espelho enxergo as asas da Esfinge e o sopro tênue do hábito fresco escondido através das nuances de teu corpo profano. Já não sei mais quem sou. As deusas inspiram-me a sonhar. As rosas de Vênus me tocam com seu perfume angelical e eu recordo-me dos teus disfarces há algum tempo. Abro as janelas de minha alma e deixo que a perfeição do amor liberte-me de todas as ilusões da carne. Peço aos querubins que guardem a entrada no paraíso para nós dois quando o trem da meia-noite apontar nas curvas da vida. Levarei olíbano para dar de presente aos guardiões.
Enquanto tenho o direito de experimentar o gosto e o gozo da vida, nessas noites quentes e meigas. Imagino-te no jardim das delícias. Espero-te. Clamo por teu nome. Saudade é o que mais sinto em meu peito na tua ausência. Em silêncio aprecio os nossos velhos retratos em preto e branco em dias nublados. As paredes do meu quarto guardam muitos segredos. Escondo os sorrisos nas gavetas que eu fechei e joguei a chave fora. Só eu sei o quanto sangro. Onde está você meu príncipe de asas? Belo anjo serafim. Minha eterna liberdade de ser feliz nas horas de solitude. Por Deus não demore para despertar.
Para R.K.