Treva poética
Perdeste o amor que antes nutrias pela poesia
Hoje tu andas por guetos, por veredas assustadas
Em sombras de orgia, longe da lógica que pensava ser
Filosofia. Tua clara visão se turvou, não sentes mais
O aroma que exalam as flores e os amantes noturnos.
Embriagas-te com discursos insalubres, te encostas
Em árvore infrutífera. Não edificas nem és
Capaz de instruir uma criança, quando o assunto
É sensibilidade. Perdeste de fato um coração.
Teu sangue é parco, às vezes incolor, não tens partido
Nem crença. Todavia, também não possuis amigo
Nem inimigo. Como ondas que partem ao cais da morte
Assim, pulsa em teu peito uma máquina, como um relógio,
Frio. O teu olhar não mira em outra direção,
senão para o teu umbigo.