Tua presença

Eu preciso deste você presente

Ausento-me na primeira facilidade

A dor doeu demais

Não desisti nem me omiti de constar

Contestei investidas suspeitas

Era a vida fazendo das suas graças

Não ri apesar de tudo

Apesar de pesar o peso do receio

No meio da noite e meia propus um pacato pacto

Mil luzes brilham e me cegam para que eu não veja

Não vendo, pressinto e sei a falta que você me faz

Você me é tão caro meu caro

Que me adiantou as bolinhas de sabão sopradas?

Com tuas mãos, cada uma explodiu no ar

Contar-te-ei um segredo sagrado

Tenho insistido em conservar uma dose de magia

Um resto de fantasia que é residual apenas

Se já não a desprezei da pipeta envelhecida, foi por você

Ria de mim enquanto pode rir ainda de alguma coisa

Não são sortilégios que lhe lanço

Mas a vida está bem aqui, a espreita e pronta

A vida sempre está a postos para o que der e vier

Só você que não dá e nem vem, isto sim me faz rir

Você não é um sarcófago lacrado e perdido em escombros

Você figura numa vitrine de um shopping day after day

Muito tola engulo minha aversão e vou até o vidro observá-lo

Não dá autógrafo, não desce do pedestal, se finge de morto

Tudo bem, temos a eternidade a nosso dispor, e também não dei

Que maravilha! Aplausos para idiotices! Bravo!

Mas assumo que ainda preciso de tua presença

Você presente, mesmo que numa redoma de ar