As cãs
Ao chegarem-me as cãs,
valer-me-a mais a lembrança
ou a esperança?
Subsídio de minha existência,
a memória levar-me-a a montes que
não poderei mais ir;
a ventos que não poderei mais encarar.
E, nesse dia, - talvez com certa saudade -
haverei de ter qualquer tipo de esperança
nefasta?
Me vale uma vida,
que mal haverá em valer mais?
O critério dissuasivo, hoje, é simplista deveras:
jovem, o futuro me é totalmente distante,
além de frio.
Não que valha o questionamento,
todavia ele subsiste.
E se há de aqui ficar,
antes lá fora,
onde os caminhos do amanhã
são demasiados roucos.
(Perdi a voz)