Melancolicamente intranquilo, distante e feliz

Os melhores textos nascem da dor, da tristeza e da infelicidade. Ora, que raios, pra quê? eu pergunto. Escrever a melancolia para reler e novamente senti-la?... Para que sofrer tanto assim?

A dor do escritor não é uma dor real, é uma agonia constante que fere a alma e o impele a colocar no papel as palavras que brotam em sua cabeça...

Agora, por exemplo, sofro a dor de um instante como este. Eu não queria escrever, queria sentir essa tristeza ou sei lá como posso chamar esse sentimento e curti-la em toda a sua plenitude. Mas não, eu começo a escrever. E, como não ser triste, se é a saudade que me consome?

Por isso, abro uma porta no meu peito e deixo fluir a esperança de continuar, de acreditar e de tentar mais uma vez. Sei que tenho tanto ainda, que busco tantas coisas, que até penso serem inacessíveis e é justamente por serem que as persigo. Até consegui-las.

Meu tempo não pode ser gasto com futilidades. É como a música de Mônica Salmaso: rica, perfeita, afinada. Uma verdadeira joia. Assim é o meu tempo: uma jóia que não pode ser usada em qualquer momento e sim, em momentos especiais.

Quero cantar e viajar. Esquecer o medo, esquecer de você, esquecer de tudo.

Não quero questionar a cena imprópria da novela, nem comentar o hilariante Pelourinho. Quero a chama. Quero habitar moradias onde eu possa chegar como um trovão. Um estrondo que assusta, mas que, aos poucos, demonstra-se ser necessário. E quero causar furor. Somente ser amor, mesmo que nem todos acreditem. Não me importa. O que me importa é o que sou. E o que sou me basta.

Ah! se os melhores textos nascem da dor, tenho de admitir que eles a aliviam também. Sinto a alma leve, o pensamento subindo e meu espírito escalando o Everest, local em que jamais almejei chegar.

Deixo que o riso se instale e é estranho este torpor que toma conta de mim, como na letra de Chico Buarque, “o que me bole por dentro”, o que me sangra, o que me machuca, o que me define, o que realmente importa. E o que importa?

Somente o aqui e o agora.

Eu tento explicar, mas não consigo. Eu tento fazer e faço. Eu falo. Você ouve. Eu respiro e o ar não falta a ninguém. Minhas palavras têm soul. O que é necessário. E é por isso que essa dor é essencial. Ela faz bem à alma.

Crônica publicada no livro Viver: um jogo perigoso, Editora In House (2009)