Elementos
Este é o espaço onde oscilam areias e sombras. Um outro elemento: o silêncio.
No silêncio – no cumprimento do silêncio – a luz divaga pelas folhas, uma luz íntima na multiplicação do vento. Árvores alteradas, a respiração na terra.
Aguardo as horas escutando os elementos, a linha da água desliza na brevidade de um lume azul. Este talento de olhar a poeira frágil do real.
Há uma vontade do silêncio, um rigor na apreensão dos rostos que não voltam, a perseguição da raiz última dos dias. E o silêncio dissemina-se (como contê-lo?) pela casa, pelas salas, por esse outro jardim que aguarda a noite.
Apenas o vento e a sua explicação volátil, o ar em socalcos na ondulação das aves, a cal dos muros.
E frases, palavras: quantas vezes são o exílio!
Silêncio. Aridez dos caminhos. Os veios da neblina até ao mar.
No calor da estação – uma nudez fria como possivelmente a espuma em nódulos no areal.
Rumor das horas e das páginas por escrever, o tecer as imagens no tear do sonho acesso,
a consciência sob a intangibilidade da perfeição.