O PÁSSARO
E o pássaro voa soberano pelos céus! As asas euforicamente se agitam, enquanto acariciam auras. Enlace harmônico com a liberdade...
Os cristais de melodia de seu canto seduzem a plenitude que grata, emana gotas de sol a dourarem suas penas.
E ele se vai, a bailar o seu reinado pelos ares... Voa sobre árvores e rios, montanhas e mares...
Fome e sede saciadas...
Mas eis que de repente, num pequeno transitar de tempo e espaço, mudam-se as cores:
Árvores se queimando!
Rios secando!
Montanhas torturadas pelo sol em fúria, por não guardarem suas prendas!
Mares maculados de morte!
Fauna e flora agonizantes entre chamas!
Fome e sede...
E o pássaro – agora a flutuar sobre edificações de concreto, envolvido em mancha cinzenta que o cega e sufoca, ensurdecido por urros estridentes de monstros de metal – lamenta com o céu pela perda do seu azul e partilha lágrimas com o vento pelo estupro covarde da brisa.
Há cansaço no agitar das asas...
E um ruído estridente explode na imensidão!
E o pássaro, já sem vida, cai sobre o chão...
BHte, 1995.