Desejo

"Embriaga-te! É hora de embriagar-te! Para não seres escravo regido pelo tempo, embriaga-te sem cessar”, nas palavras de Baudelaire. E faço delas as minhas entrelinhas no vão das curvas regidas pelo desejo. E sem saber escrevo teu nome com letras de ouro, meu menino de asas. Abra-te por inteiro. As janelas de tua alma semi-abertas ao sol de inverno, convidativas. Convide-me a entrar em tua sala de estar. Talvez eu possa me aquecer um pouco na lareira sempre acesa diante do mar nas noites frias e celestes como a brisa.

Lá fora a neve forra o chão de um branco cristal, em tons de azuis. As vidraças espelham gotas de orvalho. Não há nem sombra da lua, somente uma estrela no céu. Minha alma ilumina-se ao perceber que há tanta beleza em teu olhar negro como as asas que o vento carrega na escuridão.

Nas noites sem luar, em algum lugar dentro de mim, quero você por perto; quase tocando a pele das rosas perfumadas. Só eu sei a delícia que é compartilhar segredos de uma vida quase insana. Vem comigo no balanço da eterna magia. Vamos conhecer a terra sagrada, onde os anjos pisaram e deixaram pegadas na areia. Vem inteiro. Arraste as tuas asas azuis de borboletas. Conte-me ao pé do ouvido declarações poéticas de sonhos peregrinos em noites infinitas. Não se esqueça de tecer comigo a arte do encontro e permita-se sonhar sem medo.

Quero conhecer os espaços secretos do teu espírito livre como o sopro dos colibris. Permita-me vivenciar a tua história em uma tarde lânguida de chuva refletida no olhar de um anjo aventureiro.

Se você pudesse sentir a verve do fulgor perene e o eterno agora em minhas mãos. As coisas não ditam nos instantes debaixo do chuveiro numa tarde de nuvens brancas estendidas no horizonte. Súbitas e sinuosas intenções. Arrepios. A minúcia de poder tocar a liberdade com a ponta dos dedos, feito plumas indecentes.

Feche os olhos e me dê as mãos. Vamos conhecer o ritual das deusas na metade do outono. Abro meus olhos e vejo nossos retratos refletidos sob a luz âmbar do abajur. Feixes de luz projetados na parede de tua sala de estar, infalíveis como a lua despedaçada no céu de veludo. Quero ser a metade da tua laranja.

Se você pudesse ver através dos olhos dos anjos. Onde está Deus há essas horas? Estendo meu sorriso até onde a magia possa alcançar o sangue em tuas veias. Meus pés descalços tocam o chão forrado de estrelas e somente a alma pode vislumbrar, nessa estrada feita de sonhos e nada mais.

Ao teu lado sinto-me como que tivesse completando quinze anos. Nostalgia. Não sei de que, meu amigo de fé. Diga-me o que eu devo fazer para tocar-te, banhada de arrebol. A tarde morre lenta e docemente e a beleza da noite me chama. Aceito a sugestão e deixo que as chamas do amor me invadam, destemidas e singulares e, aos poucos, labaredas das paixões juvenis me consomem impávidas.

E tudo não passa de um sonho. Se você pudesse enxergar através das luzes do farol ao longe, na praia. Oh saudade da voz dos arcanjos em meu coração. Tua presença distante me desperta de meus devaneios. A solidão vai embora. Percebo a vida com integridade absoluta. Pura inspiração. Sinto a brisa acariciar meu rosto. Minhas amargas lembranças abrem meu peito feito brasa. Quero esquecer a dor na velocidade dos instantes.

Onde estará você agora? Vinde e embriaga-me de tua ternura. Preencha-me de boas vibrações. Vinde depressa, embarque na força do vento e dissipe todos os dissabores. Eu clamo, oh príncipe redentor!

Bendita seja a cor vermelha do pecado que agora inflama em minhas entranhas. Se eu pudesse te dizer. Oh doce ironia de querer-bem. Embriaga-me de poesia suprema. E na língua dos anjos cante uma canção aos sete ventos.

Oh anjo menino! Quero abrir as minhas asas e voar contigo, onde a vida flui com a rapidez de uma estrela. Antes de alçarmos vôos, pergunte ao céu. Há respostas em algum lugar. Talvez onde o arco-íris adormece. Não quero que a solidão me acorde lenta e tristemente. Pergunto aos anjos qual é o seu nome. Nas curvas das estradas entreguei meu coração ébrio por ti, oh encantado príncipe, com olhos de menino.

Para R.K.

Verônica Partinski
Enviado por Verônica Partinski em 17/06/2009
Reeditado em 01/11/2009
Código do texto: T1652758
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